Costa com pinças sobre PCP: "Vitória do PS não é derrota dos parceiros"

PS ganhou pelo menos 166 câmaras, nove recuperadas ao PCP. Primeiro-ministro vai ter de lidar no Governo com as ondas de choque provocadas pelo PS no país, mas para já diz que a vitória reforça "a maioria parlamentar".

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"A nossa vitória não é derrota de nenhum dos parceiros parlamentares", insistiu Costa TIAGO PETINGA/LUSA

A "maior vitória autárquica do PS" com pelo menos a presidência de 166 câmaras chegou com um misto de alegria e apreensão para os socialistas: o reforço de câmaras do partido foi feito também à custa dos parceiros de coligação, PCP e PEV, a quem ganharam pelo menos nove autarquias. Contudo, Costa preferiu falar em "reforço" da maioria do quadro parlamentar, puxando os parceiros para uma vitória que foi essencialmente do PS.

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A "maior vitória autárquica do PS" com pelo menos a presidência de 166 câmaras chegou com um misto de alegria e apreensão para os socialistas: o reforço de câmaras do partido foi feito também à custa dos parceiros de coligação, PCP e PEV, a quem ganharam pelo menos nove autarquias. Contudo, Costa preferiu falar em "reforço" da maioria do quadro parlamentar, puxando os parceiros para uma vitória que foi essencialmente do PS.

Várias foram as vezes que António Costa ouviu a pergunta sobre como ficará o equilíbrio no seio da coligação que tem com o PCP depois desta noite de 1 de Outubro e por várias vezes o primeiro-ministro, falando como líder do PS, desviou as perguntas para canto, reforçando que o maior derrotado foi o PSD, e que não se pode "procurar outros resultados para disfarçar" a leitura dos resultados eleitorais que se traduziram "numa vitória do PS e um reforço da mudança do quadro parlamentar" que aconteceu há dois anos.

"A nossa vitória não é derrota de nenhum dos parceiros parlamentares. Nuns ganhámos, noutros perdemos", disse, lembrando que tem "muito orgulho" na coligação de Governo e que esta agora mostrou que "ao fim de dois anos, todos verificam, valeu a pena a mudança". Contudo, até à hora do fecho desta edição, os socialistas perderam câmaras para o PSD e para independentes, mas nenhuma para a coligação entre o PEV e o PCP (CDU). O PS tinha 166 câmaras já conquistadas (há quatro anos tinha 150) e, por isso, Costa garantia que o PS tinha "mais votos que há quatro anos, mais mandatos, mais presidências de câmara e de freguesias. Procurar outros resultados é procurar disfarçar a leitura essencial: vitória do PS e reforço da mudança no quadro parlamentar", insistiu. Com estes resultados consegue manter a maioria da Associação Nacional de Municípios e a Associação Nacional de Freguesias.

Nas contas dos socialistas, o enfoque foi ao longo da noite para a derrota à direita. Fê-lo Costa e a meio da noite tinha feito Maria da Luz Rosinha, secretária nacional para as autarquias, que saiu da sala no Largo do Rato onde os dirigentes do PS estiveram reunidos a noite inteira a acompanhar os resultados eleitorais para dizer que o PS tinha vencido quatro câmaras "tradicionalmente do PSD", entre elas Pedrógão Grande.

E é aqui que entra o PCP. Pelo menos sete câmaras recuperadas pelos socialistas foram-no, até à hora da declaração de António Costa (23h30), ao parceiro de coligação. Ninguém no partido particularizou as nove câmaras que no final da noite já eram dadas como perdidas pelo PCP para o PS, algumas de peso histórico como Almada, Beja, Barreiro, Moura, Castro Verde e Alcochete.

Questionado várias vezes sobre o equilíbrio que procura manter no quadro dos acordos com PCP e BE, Costa também insistiu nas respostas: "Estes resultados reforçam o PS, mas reforçam sobretudo o quadro da maioria parlamentar que permitiu a mudança" nos últimos dois anos.

Já a caminho do Altis, onde foi cumprimentar Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa eleito, Costa foi respondendo a perguntas sobre a relação com o PCP. "Acho que os partidos que contruíram em conjunto esta solução parlamentar que permitiu mudança de governo e de políticas e que têm trabalhado com muita lealdade só têm boas razões para verem confirmado que há vontade política no país para dar força e continuidade e estas políticas", disse.

Durante a campanha, António Costa foi recusando que não havia pacto de não-agressão para com o PCP, discordando da leitura que tinha passado pelos concelhos CDU de forma ligeira, para não perturbar o equilíbrio entre PS e PCP. Nesta noite eleitoral, não referiu o pacto de não-agressão, mas puxou várias vezes pela ideia de que esta é uma vitória "da maioria parlamentar" e das políticas que tem vindo a implementar, desde a devolução de rendimentos à gestão das finanças públicas e da dívida pública.

No discurso no Largo do Rato, para fechar a noite eleitoral na sede do partido — que, aliás, se fez numa sala fechada com declarações de dirigentes aos jornalistas noutra sala à parte —, Costa vestiu por momentos a pele de primeiro-ministro e felicitou os autarcas eleitos com quem vai trabalhar e sobretudo com quem quer trabalhar na descentralização de competências, uma das medidas de que mais falou em campanha.