Imagens da secreta checoslovaca mostram vida clandestina de Carlos, o “Chacal”

As imagens reveladas, tiradas pela polícia secreta checoslovaca StB, mostram a vida levada por Ilich Ramírez – que chegou a ser um dos suspeitos de terrorismo mais procurados – na capital checa. No mesmo hotel onde vivia, estava também alojado o criminoso por detrás do Massacre de Munique.

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Num dos relatórios, é contado um episódio em que o terrorista venezuelano ficou trancado fora do quarto Reuters/REUTERS TV

São imagens e registos com mais de três décadas. Durante o período em que o criminoso venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, mais conhecido por Carlos, “o Chacal”, viveu em Praga (entre a década de 1970 e 1980), o suspeito era mantido sob vigilância apertada pelos serviços secretos do regime comunista checoslovaco, noticia o Guardian.

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São imagens e registos com mais de três décadas. Durante o período em que o criminoso venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, mais conhecido por Carlos, “o Chacal”, viveu em Praga (entre a década de 1970 e 1980), o suspeito era mantido sob vigilância apertada pelos serviços secretos do regime comunista checoslovaco, noticia o Guardian.

Ainda que agora esteja preso – com 67 anos, Ramírez está a cumprir três penas de prisão perpétua em França, por crimes cometidos nas décadas de 1970 e 1980 –, o criminoso vivia em liberdade no hotel InterContinental de Praga, ainda que sempre sob o olhar atento do regime comunista checoslovaco.

Aí também vivia o terrorista palestiniano Abu Daoud, que morreu em 2010, na Síria, e foi a cabeça por detrás do massacre nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Nos relatórios, o líder do grupo de activistas Setembro Negro era denominado “Rak”.

O nome dado a Ramírez não era muito diferente: nos relatórios da espionagem feita ao venezuelano, os serviços secretos checoslovacos referiam-se ao criminoso como Bak – possivelmente uma abreviatura dos vários nomes adoptados pelo “Chacal”. Num dos relatos, datado de 24 de Agosto de 1979, está escrito que “entre as 18h e as 19h, o Bak, provavelmente de forma acidental, trancou-se da parte de fora do seu quarto. Como não conseguia voltar a entrar, foi procurar o director do hotel”. No mesmo registo, é ainda referido que o venezuelano andava “furioso” com uma arma na mão pelo hotel.

A actividade dos dois suspeitos, agora tornada pública, era analisada, registada e fotografada pela polícia secreta checoslovaca, a StB.

Algum tempo depois dos momentos registados em fotografias, os dois fugitivos acabaram por sair do país. Abu Daoud foi detido em 1982. Alguns anos depois, em 1986, os serviços secretos da Checoslováquia avisaram Ramírez que tinha sido enviado um esquadrão francês para o matar – a informação era falsa, mas o criminoso acabou por sair do país, tendo sido detido oito anos mais tarde, no Sudão.

“O Chacal” foi durante muitos anos um dos suspeitos de terrorismo mais procurados do mundo. Com apenas 24 anos, Ilich trocou a Venezuela por Moscovo, então capital da União Soviética, e converteu-se ao Islão. Foi nessa altura que conheceu o movimento com o qual viria a estar envolvido: a Frente Popular da Libertação da Palestina.  

A investigadora eslovaca Daniela Richterova, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, responsável pela descoberta dos arquivos, acredita que os documentos demonstram a forma ambivalente como o regime comunista lidava com os dois criminosos.

“O que se esperava ver nestes documentos era que o regime checoslovaco apoiava estes homens”, disse, citada pelo Guardian. “Mas é mais complicado do que isso. Estes serviços secretos, aparentemente omnipotentes, como o StB, não gostavam muito destes intervenientes não-estatais e não sabiam como lidar com eles”, acrescenta, considerando que não foi uma “boa combinação”.