Macron reafirma responsabilidade de França na deportação de judeus

Netanyahu esteve na cerimónia dos 75 anos da “Rafle du Vél’ D’Hiv”, operação em que polícia francesa deteve milhares de judeus que enviaria para Auschwitz

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Netanyahu teve em Paris o seu primeiro encontro com Macron Sebastian Scheiner/Reuters

Pela primeira vez, um chefe de Governo de Israel participou na evocação da gigantesca rusga de 16 e 17 de Julho de 1942, quando mais de 13 mil judeus franceses, incluindo 4,115 crianças, foram detidos antes de serem enviados para campos de concentração. A presença polémica de Benjamin Netanyahu foi a grande novidade do 75.º aniversário da operação conhecida como “Rafle du Vél’ D’Hiv”.

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Pela primeira vez, um chefe de Governo de Israel participou na evocação da gigantesca rusga de 16 e 17 de Julho de 1942, quando mais de 13 mil judeus franceses, incluindo 4,115 crianças, foram detidos antes de serem enviados para campos de concentração. A presença polémica de Benjamin Netanyahu foi a grande novidade do 75.º aniversário da operação conhecida como “Rafle du Vél’ D’Hiv”.

“Foi a França que organizou o ‘rafle du Vél’ D’Hiv’. Nem um único alemão participou”, afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, explicando estar na gare de Grenelle de Paris para “que se perpetue o objectivo evidenciado por Jacques Chirac em 1995”. Chirac foi o primeiro chefe de Estado a reconhecer a responsabilidade francesa nas perseguições e na deportação de 42 mil judeus franceses pelo regime de Vichy só em 1942 – destes, apenas 811 regressaram no fim da guerra.

O Presidente Macron criticou, sem a nomear, a líder da extrema-direita, pelas recentes “subtilezas” e “palavras de compromisso”. Em Abril, durante a campanha para as eleições presidenciais, Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional, disse que “se há responsáveis, são os que na época estavam no poder, não a França, não é a França”. O regime de Vichy, afirmou este domingo Macron, “não era certamente todos os franceses mas era o governo e administração de França”.

Enfiados em autocarros, a maioria dos judeus levados das suas casas foram reunidos no velódromo d’Hiver, entretanto demolido. Outros ficaram detidos num campo de internamento nos arredores da capital. Passado uma semana eram levados para campos de detenção em território francês, antes de serem enviados para campos de extermínio, a maioria para Auschwitz.

No lugar da antiga pista de ciclismo existe agora a Praça dos Mártires-Judeus-do-Vél’-d’Hiv, onde teve lugar a cerimónia de “comemoração das vítimas dos crimes racistas e anti-semitas do Estado francês e homenagem aos Justos de França”.

“Estou aqui para chorar as vítimas”, disse o primeiro-ministro de Israel, tratado por “caro Bibi” por Macron, perante uma audiência que incluiu grupos de judeus e sobreviventes do Holocausto. “Há 75 anos, uma escuridão pesada desceu sobre esta cidade… Parece que os valores da revolução francesa – igualdade, fraternidade, liberdade – foram esmagados debaixo do peso do anti-semitismo.”

Várias vozes se ergueram em França contra a participação de Bibi. “A presença de Netanyahu deixa-me um pouco desconfortável”, disse o ex-embaixador de Israel no país, Elie Barnavi. “Esta história não tem nada a ver com Israel”. A União dos Judeus Franceses para a Paz, organização pró-palestiniana, considerou o convite “chocante” e “inaceitável”, mas a mais conhecida associação de grupos de judeus, a CRIF, participou nas cerimónias.

Netanyahu, que começou por falar em francês antes de passar ao inglês, descreveu o convite que lhe foi feito por Macron como “um gesto muito, muito forte”, “testemunho da amizade antiga e profunda entre França e Israel”. Depois das cerimónias de evocação das vítimas, os dois dirigentes tiveram o seu primeiro encontro de trabalho.