Vai correr bem? O que os pais dizem sobre os exames dos filhos

Fomos saber junto de figuras conhecidas do público como vivem a altura em que os filhos se prepararam para os exames e o que pensam destas provas. As atitudes e opiniões divergem, mas no essencial todos se preocupam. Os testemunhos de três mães e três pais. A avaliação arranca nesta segunda-feira.

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Têm filhos que vão fazer os exames nacionais este ano. Alguns ainda os ajudam a estudar, outros já não. É este o caso da jornalista da SIC Clara de Sousa. Tem uma filha de 17 anos, que vai fazer os exames do 11.º ano de Física e Química A e Biologia e Geologia, duas das provas mais concorridas do ensino secundário. “Nesta fase já não a ajudo. Ela gosta de estudar sozinha e com a explicadora. Vejo-a preparada e isso é o mais importante”, relata.

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Têm filhos que vão fazer os exames nacionais este ano. Alguns ainda os ajudam a estudar, outros já não. É este o caso da jornalista da SIC Clara de Sousa. Tem uma filha de 17 anos, que vai fazer os exames do 11.º ano de Física e Química A e Biologia e Geologia, duas das provas mais concorridas do ensino secundário. “Nesta fase já não a ajudo. Ela gosta de estudar sozinha e com a explicadora. Vejo-a preparada e isso é o mais importante”, relata.

Nos Salesianos, que é o colégio da filha, houve aulas de preparação para os exames. Clara de Sousa aplaude: “É um reforço muito importante. O aluno não só aprofunda conhecimentos, como evita um corte na rotina de foco e estudo que manteve ao longo do ano.”

A época de exames arranca hoje. A prova com mais alunos inscritos, 79 mil, é a de Português. Rui Marques, gestor e dirigente da Plataforma de Apoio aos Refugiados, não tem por hábito falar “com grande detalhe” sobre as matérias da escola com a filha mais nova, Marta, que frequenta o 12.º ano. “Não temos missão de explicadores em casa”, diz. Ainda assim, Matemática, Biologia ou Português são assuntos que, de vez em quando, entram nas conversas domésticas. São estas as disciplinas centrais da preparação da jovem estudante para as provas nacionais que, espera, deverão abrir-lhe as portas do curso superior em Psicologia.

“Ela tem completa autonomia no planeamento do seu estudo, mas com o aproximar dos exames estes tornaram-se uma realidade incontornável em casa”, conta Rui Marques. Ainda assim, a preparação da filha de 17 anos, que frequenta o Colégio de S. João de Brito, em Lisboa, “tem sido relativamente tranquila” e “sem problemas de motivação”.

O filho mais novo de Patrícia Reis estuda Humanidades no 12.º ano do Colégio Valsassina, em Lisboa. A escritora conta que Henrique, também com 17 anos, estuda de forma “muito independente” e tem “belíssimas notas”, mas teve um problema a Português, com um professor que “lhe deu cabo da auto-estima” e que o levou a anular a disciplina. “Continuou a ir às aulas e inscreveu-se no exame. Mas ninguém fica fã de alguém que desmotiva.”

Autónomos... ou nem tanto

Já o advogado João Nabais diz que o seu filho mais novo, de 17 anos, precisa ainda de bastante ajuda e que ele a dá sempre que pode. Mas para os exames recorreu também a apoio especializado. O filho, que frequenta a Escola Secundária Arco-Íris, nos arredores de Lisboa, vai fazer os exames de Geografia e Literatura Portuguesa do 11.º ano. “A escola propiciou aulas de preparação e nós recorremos também a lições particulares. Mas ele viveu todo este período sem dramas. Acho que está mais optimista do que eu.”

Com 14 anos, Bernardo, filho da investigadora principal do Laboratório de Genética Bioquímica da Universidade de Coimbra, Manuela Grazina, é o mais novo dos filhos dos pais com quem o PÚBLICO falou. Vai fazer exames nacionais do 9.º ano e, apesar de ser bom aluno, tem tido dificuldades em disciplinas como Português, Geografia ou História: “Qualquer matéria que exija mais da memória e não tanto da compreensão provoca-lhe resistência.”

Se no ensino da língua Bernardo pôde contar com um professor que o fez ultrapassar a sua dificuldade em aprender as regras da gramática, através da utilização de exemplos de situações do dia-a-dia em que estas se aplicam, nas outras duas disciplinas não teve a mesma sorte. Os pais tiveram, por isso, que entrar em campo. “Foi uma acção conjunta com o meu marido”, comenta Manuela Grazina, explicando que tem feito um esforço para contextualizar os conteúdos dos programas de História e Geografia do 9.º ano em questões práticas.

Um bom desafio

“Quando vamos dar passeios, tentamos que ele perceba a região, as suas histórias e as implicações para o presente. Na Geografia, tentamos integrar aquele conhecimento no que é a evolução do planeta ou as questões ambientais que se colocam hoje em dia. Ele precisa de perceber que aquilo que aprende na escola tem uma aplicação prática”, diz.

E será que ter um pai que é barra a Matemática ajuda? “Não estudo com o meu filho. Acho que tem de ser autónomo, mas ele sabe que, quando tem dúvidas, pode sempre perguntar-me, embora ele goste mais de se desembaraçar por si próprio”, diz o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Jorge Buescu.

Isso não quer dizer que não seja preciso, de vez em quando, “dar uns toques” para o levar a estudar. “O que é difícil mesmo é sentá-los a estudar”, acrescenta.

E que pensam estes pais dos exames e do desempenho das escolas? As conversas com a filha Marta permitem a Rui Marques, formado em Medicina e recém-doutorado em Sociologia Económica, perceber as matérias dos programas das disciplinas do secundário de Ciências e Tecnologias. Na sua opinião, os conteúdos “são aceitáveis para a idade e o nível de ensino”. No entanto, considera que era possível fazer com que os programas pudessem “ligar-se cada vez mais ao tempo que vivemos”. “Só assim se garante que estas sejam aprendizagens com significado”, defende.

“Os exames são sempre uma avaliação parcial, mas o aluno terá de estar preparado para tudo. Há matérias com as quais se sente mais ou menos à vontade. Nesse aspecto, há também um factor sorte. Mas, no essencial, os exames obrigam os alunos a consolidar os conhecimentos sobre determinada disciplina e isso é bom”, comenta Clara de Sousa.

Para a jornalista da SIC, o ponto de partida para esta questão é este: “Acredito numa cultura de exigência imposta desde cedo, nas salas de aula, que molde o aluno para uma idêntica cultura de exigência na vida profissional que terá enquanto adulto. Os exames são apenas uma parte do caminho.”

Exames “soft” é como o advogado João Nabais se refere a estas provas, quando comparadas com as do seu tempo. “Fazíamos exames a todas as disciplinas e o peso que tinham na avaliação final fazia com que fosse uma altura em que se ganhava ou perdia tudo”, lembra. Como os exames actuais só contam 30% para a nota final do aluno, Nabais diz que “dão muitas possibilidades para os alunos não derraparem”. “São um bom desafio, porque põem os alunos à prova e fazem com que eles sejam confrontados com as suas capacidades para resolver problemas e ultrapassar etapas”, conclui.

Patrícia Reis dá, pontualmente, explicações de História ou Português a filhos de amigos e vizinhos ou afilhados. Por isso, sente conhecer bem a forma como a geração de que também faz parte o filho mais novo, Henrique, interage com a escola. “Eles não percebem a matéria”, atira. E, a seu ver, as dificuldades de entendimento têm que ver com uma discrepância entre a escola e a forma como esta geração se relaciona com o conhecimento.

Por um lado, “estes miúdo são multitarefas”. Henrique, por exemplo, estuda enquanto ouve música e com o computador ligado ao seu lado. “Não há como contrariar isso.”

Por outro, por integrarem o que a escritora chama “geração da comunicação” — com acesso a informação mais cedo e mais facilmente do que a escola anteciparia e à participação em fóruns de discussão, por exemplo —, são adolescentes “com opiniões”. “São estimulados a pensar dentro de casa e pelos grupos em que se integram. E isso cria muitos atritos na escola, que não está preparada para isso”, considera.

Mais esforço é preciso

O filho de Manuela Grazina, Bernardo, que frequenta o Colégio S. Teotónio, em Coimbra, disse uma vez à mãe que sente que a maior parte das crianças são infelizes na escola, porque não percebem para que é que aquilo serve. A investigadora ficou surpreendida: “Lembro-me que no meu tempo ia para a escola com felicidade.” E isso fê-la ganhar a certeza de que, mais do que um problema de conteúdos — “a Matemática e Português parecem-me adequados para a idade” —, a escola coloca um problema de motivação. “Deixou de ser a coisa mais importante da vida da maior parte das crianças”, avalia.

“Estou satisfeito com o desempenho da escola, mas defendo que tem de haver também um esforço suplementar por parte dos alunos”, refere Jorge Buescu, cujo filho frequenta a Escola Secundária Virgílio Ferreira, em Lisboa. Que saiba, não houve por lá aulas de preparação para os exames — ou então o filho não foi. Quanto ao modo como decorreu o ano lectivo, frisa que não tem a sensação de que o ensino na sala de aula tenha sido condicionado aos exames. “As disciplinas foram trabalhadas de uma forma natural, sem drama. Não houve a psicose do exame.”

Também Clara de Sousa refere que na escola da sua filha não se condiciona o ensino ao treino para exames. “Há espaço para muito mais”, diz. E deixa de seguida um voto de confiança nos professores: “Quero acreditar que, no geral, não ficam reféns dessa lógica redutora.” Patrícia Reis discorda desta ideia: “Todo o ano lectivo foi excessivamente centrado nos exames.” A escritora considera que os professores passam “um ano a chantagear” os alunos por causa das provas nacionais finais, o que acaba por ser contraproducente. “Nestes dias, eles já têm pressão suficiente”, diz.