Uma mulher no meio dos zombies, do lado errado da fronteira dos EUA com o México

Kim Dickens, ou a líder Madison, fala ao PÚBLICO do medo que os governos nos abandonem e da brutalidade como capital. Fear the Walking Dead regressa para a terceira temporada a 5 de Junho no AMC.

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Kim Dickens tem o seu quinhão de séries de qualidade no currículo — Treme, Deadwood, Friday Night Lights, Perdidos, Sons of Anarchy, House of Cards... É em Fear the Walking Dead que a encontramos agora, ao telefone a partir dos EUA, como parte de um elenco alargado em que se destacou, abrindo caminho à machadada e, com abraços maternais, para se tornar a protagonista não-oficial da série.

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Kim Dickens tem o seu quinhão de séries de qualidade no currículo — Treme, Deadwood, Friday Night Lights, Perdidos, Sons of Anarchy, House of Cards... É em Fear the Walking Dead que a encontramos agora, ao telefone a partir dos EUA, como parte de um elenco alargado em que se destacou, abrindo caminho à machadada e, com abraços maternais, para se tornar a protagonista não-oficial da série.

Prequela de The Walking Dead e mais directamente ligada à actualidade, a série passa no canal AMC e tem muito menos audiências do que o título-mãe, mas também já não tem fronteiras. Nem entre países, que o apocalipse destruiu, nem para poupar personagens como a de Madison, que nesta terceira temporada “se torna mais impiedosa”, diz a actriz. “Já sabe as regras do apocalipse. E não quer só sobreviver, quer recomeçar.”

O produtor Dave Erickson disse ao PÚBLICO há um ano, em plena crise no Mediterrâneo, que Fear se tinha tornado uma “série de refugiados”. Nesta terceira temporada, o tema das fronteiras é central — o que acha que diz sobre o que se passa nos EUA e fora deles?
Provavelmente, isso vem da consciência criativa dos argumentistas. Para eles, é o que importa no mundo actualmente, e começam a escrever e a reflectir o que está a acontecer. As nossas personagens são refugiadas noutro país, no México, na fronteira entre o que eram os EUA e o que era o México — porque já não há fronteiras. É um momento muito violento para estas personagens, neste apocalipse. Contar histórias é isso mesmo, fazer o público sentir-se parte de algo e não tão-só no seu percurso. Há quem diga que não percebe o género dos zombies, mas é só contar histórias de uma forma muito mais dinâmica e nas quais muito mais está em causa. Nos anos 1930, os zombies eram uma metáfora que representava os medos da humanidade, de uma epidemia, de uma invasão estrangeira ou alienígena, de as pessoas serem abandonadas pelos seus governos.

Esse cenário também é um lugar interessante para desenvolver uma personagem, também ela em mudança e reconstrução. É um trabalho diferente do de outras histórias?
Como actriz, não sabia como me encaixava no género zombie, nunca o tinha feito, mas fui logo atraída pelo primeiro guião — a personagem feminina era incrível, durona e com defeitos, multidimensional. Esses desafios, enquanto actriz, são o mais excitante para mim. Está sempre tudo em causa, as personagens são testadas a toda a hora, e isso é divertido de interpretar.

Está tudo em causa, nomeadamente na ficha técnica — é uma série que, como outras neste momento, nada garante sobre a sobrevivência de personagens que parecem centrais. Também sente que toda a gente está em risco?
Sim, acho que também faz parte do género. Como actores, habituamo-nos a isso, os trabalhos vêm e vão, somos uma espécie resistente. Não é fácil perder uma personagem, é sempre difícil, mas é o que fazemos.

Quais são os principais pontos que farão a série avançar?
Esta temporada vamos ver as personagens debater-se com a perda da sua humanidade, a aprender que a brutalidade é uma moeda de troca e que, para sobreviver, os meios são violentos para fins positivos. Há um esforço para manter a família junta, mas também um esforço grande para reconstruir a sociedade. Há um percurso natural para a humanidade, o de tentar construir comunidades e leis.

A rubrica Media é publicada no P2, o caderno de domingo do PÚBLICO