As guerras d’a Guerra

A série documental de Joaquim Furtado A Guerra está a ser editada em DVD com livros assinados por Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes. Este é o prefácio do volume seis — Orgulhosamente Sós.

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Imaginemos um documentário sobre um acontecimento decisivo da história do século XX português: a guerra “colonial”. Um conflito que foi mais do que um evento no qual combateram portugueses “colonialistas”de um lado, e africanos “anticolonialistas” do outro. Na guerra “colonial” portugueses e outros europeus estiveram do lado do “anticolonialismo”, e africanos, naturais ou não dos territórios sob administração portuguesa, apoiaram o “colonialismo”. Foi um conflito no qual, e para quase todos, a vontade de sobreviver se sobrepôs, quando existiam, às convicções políticas e à inspiração ideológica. Foi uma guerra que não se esgotou, política e militarmente, em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Desenrolou-se no contexto internacional da guerra fria, mas foi mais do que um acontecimento da guerra fria. Dependeu de rivalidades e solidariedades regionais e continentais, mas também materiais, étnicas, políticas e ideológicas, num contexto global em que o colonialismo parecia cada vez mais obsoleto. Caracterizou-a um esforço de conquista da opinião pública internacional e de inúmeras opiniões públicas nacionais e sectoriais, ou o combate pela obtenção dos escassos recursos materiais disponíveis. Foi um conflito de terceira ou quarta ordem no plano internacional, não captando a atenção do mundo, e muitas vezes, sequer, dos portugueses. Por tudo isto, não foi, não é, e nunca será, um evento facilmente explicável e compreensível.

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Imaginemos um documentário sobre um acontecimento decisivo da história do século XX português: a guerra “colonial”. Um conflito que foi mais do que um evento no qual combateram portugueses “colonialistas”de um lado, e africanos “anticolonialistas” do outro. Na guerra “colonial” portugueses e outros europeus estiveram do lado do “anticolonialismo”, e africanos, naturais ou não dos territórios sob administração portuguesa, apoiaram o “colonialismo”. Foi um conflito no qual, e para quase todos, a vontade de sobreviver se sobrepôs, quando existiam, às convicções políticas e à inspiração ideológica. Foi uma guerra que não se esgotou, política e militarmente, em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Desenrolou-se no contexto internacional da guerra fria, mas foi mais do que um acontecimento da guerra fria. Dependeu de rivalidades e solidariedades regionais e continentais, mas também materiais, étnicas, políticas e ideológicas, num contexto global em que o colonialismo parecia cada vez mais obsoleto. Caracterizou-a um esforço de conquista da opinião pública internacional e de inúmeras opiniões públicas nacionais e sectoriais, ou o combate pela obtenção dos escassos recursos materiais disponíveis. Foi um conflito de terceira ou quarta ordem no plano internacional, não captando a atenção do mundo, e muitas vezes, sequer, dos portugueses. Por tudo isto, não foi, não é, e nunca será, um evento facilmente explicável e compreensível.

A Guerra, documentário de Joaquim Furtado, tem o mérito de nos apresentar esta complexidade. Fá-lo porque evita narrativas maniqueístas e as explicações fáceis, simplistas. Por isso, na forma e na substância, A Guerra supera tudo aquilo que se fez em Portugal sobre o acontecimento que tenta perceber e explicar. E é assim porque o seu autor e a sua equipa reconheceram a complexidade do tema tratado, ao mesmo tempo que o simplificavam dando voz aos protagonistas, independentemente de serem civis ou militares e de terem participado na guerra “colonial” no topo, na base ou nos escalões intermédios da hierarquia político-militar e social. Tal como a realidade não é “a preto e branco”, A Guerra não é uma narrativa e uma tentativa de explicação de uma realidade a “preto e branco” que nunca existiu. É um trabalho notável que deve interessar a todos.