Portas e janelas velhas procuram nova casa para habitar

Associação ligada à reabilitação urbana criou repositório de materiais de construção reutilizáveis. Há oferta no Porto e interessados em fazer o mesmo em Lisboa.

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A ideia surgiu em 2013, mas só este ano é que o Repositório de Materiais deu sinal de vida no site da Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património (APRUPP). Numa plataforma à espera de financiamento para se tornar mais interactiva e, acima de tudo, actualizada às disponibilidades do momento, empresas de construção, os primeiros parceiros deste projecto, mostram portas, janelas, vigas, armações de clarabóias em ferro e outros materiais à espera de uma hipótese de reutilização.

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A ideia surgiu em 2013, mas só este ano é que o Repositório de Materiais deu sinal de vida no site da Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património (APRUPP). Numa plataforma à espera de financiamento para se tornar mais interactiva e, acima de tudo, actualizada às disponibilidades do momento, empresas de construção, os primeiros parceiros deste projecto, mostram portas, janelas, vigas, armações de clarabóias em ferro e outros materiais à espera de uma hipótese de reutilização.

O Repositório de Materiais da APRUPP já ganhou algumas distinções, desde uma Menção Honrosa e Prémio de Incubação pelo Centro de Inovação Social do Porto, bem como Bolsas do Passaporte para o Empreendedorismo, promovidas pelo IAPMEI. Mais recentemente foi finalista no Green Project Awards. Mas, como tudo o que tem que ver com designada economia circular, ainda são, admite a arquitecta Cláudia Cardoso, muitas as dificuldades para pôr nos carris um projecto cuja necessidade é difícil de contestar.

Bom. Na verdade, assume a arquitecta responsável, na APRUPP, por esta iniciativa, ela nem deveria ser necessária se, na “reabilitação” de edifícios que se faz hoje em dia não imperasse, ainda, a lógica da demolição total ou quase total dos interiores, para reconfiguração dos espaços. As aspas na palavra reabilitação servem para contestar a sua aplicabilidade em casos destes já que, para Cláudia Cardoso o que faria sentido é que, em obra, se aproveitasse ao máximo a preexistência, o que poucas vezes acontece. Assim, é muito o material “velho” que tem como destino quase certo o lixo, numa altura em que é exigido também a este sector que faça o seu trabalho para o cumprimento das metas nacionais de redução de resíduos.

Perante esta lógica que transforma em entulho peças que poderiam ser reutilizadas, a APRUPP foi à procura de quem pensa diferente e, aos poucos, vai encontrando quem partilhe esta ideia. Em Campanhã, alguns armazéns ligados a um construtor civil guardam já elementos disponíveis para serem integrados numa nova casa, desde portas e janelas até vigas, seja em madeira de carvalho ou de pinho de riga – peças estas que, mesmo velhinhas, têm um bom valor de mercado devido à sua enorme qualidade. A madeira domina, como matéria-prima do que por ali se vê, mas há também peças em ferro, como armaduras para clarabóias, portões, etc.

O projecto encontrou já arquitectos e pelo menos um empreiteiro interessados em dar-lhe continuidade em Lisboa, naquilo que será o início de uma verdadeira rede. E Cláudia Cardoso defende que, por esse país fora, os municípios se deveriam envolver para resolver um dos problemas desta iniciativa: a logística do armazenamento provisório das peças resgatadas à demolição. Seja em termos de equipa ou de espaços, a APRUPP nunca teve estrutura para dar conta dessa tarefa e a arquitecta considera que a existência de um armazém centralizado, em cada concelho, onde estivessem reunidos os materiais traria outra força ao projecto. O que a associação pretende garantir – e está á procura de financiamento europeu para isso – é a catalogação atempada e a criação de uma plataforma actualizada, que sirva de interface entre a oferta e a procura.   

A arquitecta responsável pelo projecto na APRUPP gostaria também que este estivesse articulado com os bancos de materiais existentes em alguns municípios, como o Porto ou Ovar (este dedicado à salvaguarda do azulejo) e outros que venham a ser criados por outras instituições, esperando, no futuro envolver também no repositório, e na lógica subjacente à sua existência, as associações ligadas ao sector da construção civil.