Exportações e investimento levam Banco de Portugal a rever crescimento em alta

Banco central junta-se ao optimismo revelado pelo Governo e vê as exportações e o investimento a empurrarem a economia para um crescimento de 1,8% este ano. Fátima e barragens ajudam.

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Miguel Manso

A aceleração acentuada das exportações e do investimento iniciada no final do ano passado e que se mantém no início deste ano levou o Banco de Portugal a rever em alta as suas projecções de crescimento para a economia portuguesa nos próximos três anos, contrariando as visões mais negativas da Comissão Europeia e do FMI e confirmando as perspectivas mais positivas avançadas pelo Governo.

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A aceleração acentuada das exportações e do investimento iniciada no final do ano passado e que se mantém no início deste ano levou o Banco de Portugal a rever em alta as suas projecções de crescimento para a economia portuguesa nos próximos três anos, contrariando as visões mais negativas da Comissão Europeia e do FMI e confirmando as perspectivas mais positivas avançadas pelo Governo.

Nas previsões de Primavera publicadas esta quarta-feira, o banco central aponta para um crescimento em 2017 de 1,8%, mais 0,4 pontos percentuais do que os 1,4% que tinham sido projectados no passado mês de Dezembro. Para 2018 e 2019, antecipam-se variações do PIB são de 1,7% e 1,6%, respectivamente, valores que comparam com as anteriores previsões de 1,5% para os dois anos.

Também é feita uma correcção dos resultados relativos ao ano passado, cujo crescimento o Banco de Portugal estimava em Dezembro ser de 1,2%, mas que acabou por ficar em 1,4%.

E é precisamente aqui, no desempenho da economia mais forte do que o esperado no final de 2016, que o banco já vê a prolongar-se pelos primeiros meses de 2017, que reside uma das principais justificações para a mudança operada nas previsões de crescimento para os anos seguintes. O relatório do Banco de Portugal assume que as revisões efectuadas “traduzem um dinamismo da actividade económica no final de 2016 e início de 2017 superior ao antecipado no anterior exercício  de projecção”. A outra grande explicação dada pelo banco central é “o impacto globalmente favorável das hipóteses de enquadramento externo”, isto é, a confiança de que o resto da economia mundial vai evoluir mais favoravelmente.

Com esta previsão de crescimento de 1,8%, o Banco de Portugal aponta assim para um valor que é superior aos 1,5% estimados em Outubro pelo Governo quando apresentou o Orçamento do Estado. E parece dar mais argumentos ao crescente optimismo revelado pelos membros do Executivo em relação ao desempenho da economia este ano. Esta quarta-feira, em entrevista à Bloomberg, o ministro das Finanças afirmou que a previsão de crescimento do Governo para 2017 irá ser revista para um valor próximo de 2% no Programa de Estabilidade e Crescimento que irá ser entregue em Abril às autoridades europeias.

Em Bruxelas, pelo contrário, as projecções para a economia portuguesa continuam a ser mais prudentes, com uma estimativa de crescimento este ano de 1,6%.

Fátima e barragens ajudam

Lendo o relatório agora publicado pelo Banco de Portugal, a conclusão que se pode retirar é que, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, uma série de factores positivos se combinam para colocar a economia a crescer mais. E, tendo em conta que o consumo privado continua condicionado pelo elevado nível de endividamento das famílias e pelo crescimento moderado dos salários, é nas exportações e no investimento que as coisas podem vir a correr particularmente bem.

De acordo com as previsões do Banco de Portugal, as exportações de bens e serviços deverão acelerar de um crescimento de 4,4% em 2016 para 6% este ano. Este resultado tão forte é ajudado pelo facto de agora o banco central ter como pressuposto um crescimento da procura externa de 4%, em vez dos 3,4% de Dezembro. Mas ainda assim, significa que se está a projectar um muito acentuado ganho de quota de mercado das exportações portuguesas, já que as exportações crescem mais 2 pontos percentuais do que a procura externa.

O Banco de Portugal dá uma pista de como é que isso será conseguido, ao destacar “o desempenho das exportações de turismo, que será favorecido pela ocorrência em território português de importantes eventos à escala internacional”. Entre os eventos previstos em Portugal este ano está visita do Papa a Fátima e a realização do Web Summit em Lisboa, tal como no ano passado.

Para além do turismo, o Banco de Portugal assinala a ajuda para as exportações que pode constituir o regresso a padrões normais do sector energético e automóvel, sendo referido o efeito do lançamento de um novo modelo da Autoeuropa.

Do lado do investimento, aquilo que o Banco de Portugal prevê, depois de uma correcção em alta do resultado para 2016, é o arranque deste indicador ao fim de vários anos decepcionantes. A previsão é de um crescimento de 6,8%, que compara com o recuo de 0,3% em 2016 e a previsão anterior de 4,3%.

Entre os motivos apresentados para esta recuperação estão a manutenção de condições favoráveis de financiamento, a necessidade de recuperação do stock de capital, a normalização da atribuição de fundos europeus e a previsão de realização de investimentos importantes em infraestruturas. A este nível aquilo que está previsto é o complexo de barragens no Alto Tâmega.

Notas de prudência

No meio destas previsões em tom mais optimista do que tem sido habitual, o Banco de Portugal deixa algumas notas de prudência.

Por um lado, deixa claro que as taxas de crescimento previstas para este ano e para os anos seguintes, apesar de serem mais positivas do a média dos últimos anos em Portugal, ainda não chegam para garantir a convergência real com a zona euro. Para que tal acontecesse, era preciso que Portugal se aproximasse mais do 2% e que, nos anos seguintes conseguisse manter o ritmo, em vez de abrandar ligeiramente tal como é previsto.

Depois, o Banco de Portugal assinala que no cenário agora traçado, o PIB português em 2019 estará apenas próximo do de 2008 em termos reais. Isto é, a economia está ainda a um nível muito baixo e só nessa altura é que as perdas acumuladas durante a crise ficarão recuperadas.

Isto é particularmente verdade no que diz respeito ao investimento que, mesmo com as taxas de crescimento elevadas agora previstas, chegará ao final de 2019 ainda significativamente abaixo dos níveis de 2008.