Um velho Amigo americano que dá prazer redescobrir.

Wenders subiu de patamar com esta adaptação de Patricia Highsmith, sedutor ensaio sobre o género.

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Foi aqui, em 1977, com esta adaptação de um romance de Patricia Highsmith à volta da personagem recorrente do amoral Tom Ripley, que Wim Wenders “subiu de patamar”. É um filme que é um passo lógico na sequência da carreira, e que continua a olhar para a América com o misto de decepção e surpresa que Wenders sentia nesses anos 1970 onde tudo parecia estar em fluxo. Ripley, o “amigo americano” do título interpretado por um Dennis Hopper em confiante descontracção, é ao mesmo tempo causa e solução dos problemas de Jonathan (grandíssimo Bruno Ganz), o emoldurador de Hamburgo com uma doença incurável que se deixa manipular para cometer um crime. É a ideia da América como metediça arrogante que faz o que bem entender para logo a seguir perceber o erro que cometeu e tentar corrigi-lo, a América do cinema político e liberal dos anos 1970, que Ripley corporiza.

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Foi aqui, em 1977, com esta adaptação de um romance de Patricia Highsmith à volta da personagem recorrente do amoral Tom Ripley, que Wim Wenders “subiu de patamar”. É um filme que é um passo lógico na sequência da carreira, e que continua a olhar para a América com o misto de decepção e surpresa que Wenders sentia nesses anos 1970 onde tudo parecia estar em fluxo. Ripley, o “amigo americano” do título interpretado por um Dennis Hopper em confiante descontracção, é ao mesmo tempo causa e solução dos problemas de Jonathan (grandíssimo Bruno Ganz), o emoldurador de Hamburgo com uma doença incurável que se deixa manipular para cometer um crime. É a ideia da América como metediça arrogante que faz o que bem entender para logo a seguir perceber o erro que cometeu e tentar corrigi-lo, a América do cinema político e liberal dos anos 1970, que Ripley corporiza.

E não é por acaso que os “malfeitores” peculiares que rodeiam Ripley, do falsário de Nicholas Ray ao mafioso de Samuel Fuller, são realizadores, atestado de cinefilia hardcore e homenagem ao cinema que moldou a imagem da América para uma geração de cineastas europeus (basta uma breve distracção para perder a dedicatória no genérico de abertura a Henri Langlois).

É, no entanto, um filme que envelheceu menos bem do que outros dos títulos que temos estado a rever neste ciclo Wenders, porque a necessidade de manter uma lógica de género troca as voltas ao realizador. Se toda a longa sequência do metro parisiense, literalmente sem diálogo, é um modelo quase Melvilliano de inteligência e virtuosismo na construção do suspense, e a longa sequência do comboio entre Munique e Hamburgo uma homenagem sentida a uma velha tradição americana, a evidência é que para Wenders o género apenas interessa, de modo romântico, enquanto pretexto para pensar personagens que evoluem fora do mundo, ou fora das convenções do mundo. É por isso que a meia-hora final, onde O Amigo Americano oscila entre resolver a sua narrativa e deixá-la em aberto, respeitando as nuances que sempre trabalharam a escrita de Highsmith ou deixando-se levar por uma tentativa de policial hard-boiled assumidamente fajuta antes de se redimir nos planos finais, sugere um desequilíbrio, uma incerteza, que ajuda à sedução do filme ao mesmo tempo que o enfraquece.

Ainda assim: é uma “cápsula do tempo” de uma “Alemanha no Outono” — é ver o modo como Wenders filma o antigo lado a lado com o moderno, os arranha-céus de Paris e as ruas da velha Hamburgo, ou o modo como o sangue percorre todo o filme, através das notas constantes de vermelho na fotografia de Robby Müller. Não será “o” grande filme de Wim Wenders, mas é um velho amigo que dá prazer redescobrir.

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