Paraíso perdido

O primeiro grande filme de Wim Wenders sobre a América (mas não só) regressa numa cópia maravilhosamente restaurada: Alice nas Cidades.

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Olhar para um filme todos estes anos depois, longe do tempo em que foi feito, tem destas coisas: Alice nas Cidades é simultaneamente “prólogo” e “concentrado” do “sonho americano” de Wim Wenders, primeira paragem de um percurso fascinado por uma América mítica desaparecida (ou talvez inexistente), que chegaria a um fim natural dez anos mais tarde com a experiência de Hammett e o díptico O Estado das Coisas / Paris, Texas.

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Olhar para um filme todos estes anos depois, longe do tempo em que foi feito, tem destas coisas: Alice nas Cidades é simultaneamente “prólogo” e “concentrado” do “sonho americano” de Wim Wenders, primeira paragem de um percurso fascinado por uma América mítica desaparecida (ou talvez inexistente), que chegaria a um fim natural dez anos mais tarde com a experiência de Hammett e o díptico O Estado das Coisas / Paris, Texas.

Algumas das ideias que por aqui afloram de modo toca-e-foge virão, ainda assim, a ecoar nos regressos “tardios” e deslocados ao país-continente (como Crimes Invisíveis, que parece ter o seu embrião nas cenas de Alice nas Cidades onde Rüdiger Vogler protesta contra a publicidade e a televisão).

Redescobrindo-o nesta extraordinária cópia restaurada (que devolve o filme ao enquadramento 1.85:1 com que Wenders o pensou mas que a televisão alemã, co-financiadora, não podia respeitar), este é no entanto também um filme luminoso, inocente, esperançoso. É uma “cápsula” inteiramente “do seu tempo”, inteiramente europeia no modo como a sua história (um jornalista desencantado que não encontrou a América que procurava acaba por se tornar no baby-sitter improvável de uma miúda que a mãe lhe entregou para levar para a Alemanha) ecoa toda uma possibilidade de liberdade, de futuro. Em 1974, este era um futuro que ainda era viável imaginar; hoje, parece uma espécie de “paraíso perdido”.