“O espírito do fascismo anda à solta na Europa”, diz Erdogan

Governo turco incita ao reacendimento de velhas feridas contra países da UE para se vingar.

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Manifestante em Roterdão a fazer a saudação dos Lobos Cinzentos Bas Czerwinski/EPA

Na Turquia, os ataques contra a União Europeia tornaram-se a arma eleitoral do Presidente Recep Erdogan, a pretexto do conflito diplomático com a Holanda. “O espírito do fascismo anda à solta na Europa”, declarou o Presidente turco, num discurso transmitido pela televisão.

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Na Turquia, os ataques contra a União Europeia tornaram-se a arma eleitoral do Presidente Recep Erdogan, a pretexto do conflito diplomático com a Holanda. “O espírito do fascismo anda à solta na Europa”, declarou o Presidente turco, num discurso transmitido pela televisão.

Entre as multidões que se reúnem apoiando Recep Erdogan e o “sim” no referendo que transformará a Turquia num regime presidencial, e que chamam “fascistas” e “nazis” aos holandeses”, vêem-se manifestantes fazendo com as mãos a silhueta de um lobo – a saudação de uma organização nacionalista de extrema-direita turca, os Lobos Cinzentos. Na década de 1970, este grupo organizou verdadeiros esquadrões contra militantes de esquerda e minorias. Hoje está relacionada com o partido do Movimento Nacionalista, que apoia a mudança da Constituição desejada por Erdogan.

Outros fazem o sinal de Rabaa ou Rabbi'ah – que apareceu nas manifestações da Irmandade Muçulmana no Egipto, quando o Presidente Morsi foi deposto pelo actual Presidente Sissi. O polegar encolhido junto à palma e os outros quatro dedos levantados. 

Vacas devolvidas

O apelo de Ancara a “sanções” internacionais contra a Holanda por não ter deixado entrar os seus ministros para fazer campanha pelo “sim” no referendo, em comícios que se realizavam nas vésperas das eleições holandesas desta quarta-feira, tem-se expressado de formas algo bizarras. Yigit Bulut, porta-voz de Erdogan, apelou à China para que responsabilize a Holanda pela morte de dez mil chineses em 1740.

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Manifestantes turcos em Metz fazem o sinal da Rabaa da Irmandade Muçulmana Vincent Kessler/REUTERS

Isto depois de, na véspera, Erdogan ter responsabilizado os capacetes azuis holandeses pelo massacre de oito mil muçulmanos em Srebrenica – um dos episódios mais traumáticos da guerra da Bósnia, quando um pequeno contingente de capacetes azuis holandeses não travou o avanço das forças sérvias. Radovan Karadzic foi julgado e condenado pelo massacre.

Mais estranho ainda, a Associação de Produtores de Bovinos mandou para trás uma encomenda de 40 vacas Holstein holandesas, por causa do conflito entre os dois países. 

A guerra diplomática joga-se também na Internet, com sites e contas no Twitter de várias organizações a serem atacadas por hackers turcos, que deixam mensagens como “Nazi Germany”, “Nazi Holland” e “Ottomanslap for you. Learn turkish” (toma uma bofetada otomana, aprende turco). Os visados são tão variados como a Amnistia Internacional, o Ministério da Economia francês, a BBC América do Norte, o clube de futebol alemão Borussia Dortmund e o tenista Boris Becker.

De forma mais séria, um tribunal turco recusou a libertação do jornalista germano-turco do Die Welt Deniz Yucel, detido no mês passado, sob a acusação de fazer propaganda terrorista, e cujo caso tem contribuído para aumentar a tensão que também existe entre a Turquia e a Alemanha.