Pulp fiction

Idade das Sombras é um filme de guerra popular e excessivo, com um par de momentos de antologia.

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Com A História de Duas Irmãs (2003), Doce Tortura (2005) e Eu Vi o Diabo (2010), Kim Jee-woon foi um dos pontas-de-lança reconhecidos de uma mini-invasão de cinema de género sul-coreano, porta aberta pelo Old Boy de Park Chan-wook e pela qual entrou também Bong Joon-ho (Memories of Murder, The Host).

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Com A História de Duas Irmãs (2003), Doce Tortura (2005) e Eu Vi o Diabo (2010), Kim Jee-woon foi um dos pontas-de-lança reconhecidos de uma mini-invasão de cinema de género sul-coreano, porta aberta pelo Old Boy de Park Chan-wook e pela qual entrou também Bong Joon-ho (Memories of Murder, The Host).

A Idade das Sombras, regresso de Kim à terra natal depois de uma experiência americana para esquecer (O Último Desafio, com Arnold Schwarzenegger), tem por isso qualquer coisa de “prova de vida”, de confirmação que o cineasta ainda é capaz de sacar um daqueles gloriosos manifestos de ultra-violência hiper-estilizada e romantismo masculino à moda antiga.

Por aí podemos ficar descansados: história de espiões e contra-espiões, traições e amizades pelo meio da ocupação japonesa da Coreia nos anos 1920, A Idade das Sombras arranca três ou quatro momentos de antologia, com especial destaque para um extraordinário acto central inteiramente ambientado num comboio em movimento, feito com uma inteligência e uma pontaria que já nem os americanos conseguem recuperar.

É, no entanto, escusado esperar daqui a mesma sensação de descoberta que Doce Tortura nos deu, até porque a “suspensão da descrença” em que os desvairos criativos coreanos sempre foram férteis soçobra aqui rapidamente perante o excesso bombástico, quase novelesco, da história (ficcional, mas inspirada em personagens e factos reais), amplificado pela duração excessiva. Mas há mais convicção e energia em qualquer um dos fotogramas de A Idade das Sombras do que, por exemplo, em toda a duração de Kong: Ilha da Caveira; e os tais momentos de antologia são qualquer coisa digna de ser vista em écrã.

É pulp fiction popular e populista, feita com o virtuosismo quase ofensivo que reconhecemos a Kim e aos seus compatriotas de geração; fará talvez mais sentido para “consumo interno” na Coreia do Sul, mas paira uns largos quilómetros acima da concorrência americana.

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