Marcelo recebeu Carlos Costa, para tentar mediar a crise

Presidente reuniu-se com o governador este fim-de-semana para tentar ajudar a desbloquear as nomeações para o Banco de Portugal. Saída de Carlos Costa é cenário excluído. Sem comentar directamente o caso, Marcelo disse hoje que estão "todos a remar na mesma direcção".

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O Presidente da República recebeu o governador do Banco de Portugal este fim-de-semana, apurou o PÚBLICO, para tentar desbloquear o impasse que se gerou sobre as nomeações para o Conselho de Administração do banco central.

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O Presidente da República recebeu o governador do Banco de Portugal este fim-de-semana, apurou o PÚBLICO, para tentar desbloquear o impasse que se gerou sobre as nomeações para o Conselho de Administração do banco central.

A tentativa de mediação presidencial (que foi sugerida ontem por Marques Mendes na SIC) não teve, pelo menos ainda, efeitos visíveis: os nomes ainda não foram mandados pelo Governo para o Parlamento, de forma a dar sequência às audições prévias, exigidas pela lei. Mas deu já um sinal para dentro do executivo socialista: o de que o chefe de Estado não quer a saída do actual governador do cargo, que muitos à esquerda desejavam – sobretudo entre PCP e BE, mas também entre os socialistas.

O impasse na nomeação dos novos administradores do Banco de Portugal tornou-se um caso sério quando, na semana passada, o ministro das Finanças voltou a dizer não a um dos nomes propostos pelo governador. Trata-se de Rui Carvalho, há muito com cargo de director no banco, que Mário Centeno entende não ter perfil para subir à administração. Mesmo com a indicação positiva dos socialistas para três dos nomes propostos, Carlos Costa entendeu retirar a lista que propunha, não aceitando a indicação para levar ao Parlamento apenas três dos quatro nomes propostos. Como o Governo não tem poder de indicar nomes, apenas de não aprovar a lista proposta pelo governador, tudo ficou como antes: com quatro nomes em aberto no órgão de topo do banco central.

Toda esta crise avolumou-se na última semana devido à publicação pela SIC de uma reportagem sobre a gestão que o Banco de Portugal fez do caso BES, denunciando documentos que Carlos Costa não entregou na comissão de inquérito realizada em 2015. Foi o mote para o Bloco e PCP voltarem a pedir a saída do governador, mas também para Carlos César anunciar uma "reflexão" no PS sobre o tema.

António Costa foi mais prudente: disse na sexta-feira (e reiterou esta segunda-feira) que a “função” do Governo é “trabalhar leal e construtivamente” com o BdP na “estabilização do sistema financeiro”, que está “bastante melhor”. Deixando até a indicação de se ter conformado com um governador que preferia não ter no banco central: “Temos que aprender a trabalhar com as instituições tal como elas existem. É o que nós fazemos com o governador do BdP no dia-a-dia”. Sobre o caso BES, e a disponibilidade entretanto anunciada de Carlos Costa para ir dar explicações ao Parlamento (anunciada na segunda-feira), Costa foi irónico: "“Acho que é sempre saudável que haja um acompanhamento por parte da AR da actividade de supervisão e, se o governador [Carlos Costa] quer dialogar com a Assembleia, excelente”.

Já o Presidente da República foi ainda mais reservado relativamente ao tema. Limitou-se a dizer, antes do final da semana (quando se reuniu em Belém com o governador), que não iria "fazer nenhuma declaração sobre essa matéria". "Não tenho nada a dizer. Ainda ontem disse que o sistema financeiro é um sistema que se quer consolidado e forte e portanto não vou fazer nenhuma afirmação sobre o sistema financeiro que vá contra aquilo que disse ontem", explicou o Presidente aos jornalistas.

Já nesta segunda-feira, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa insistiu que o mais importante é o reforço do sistema financeiro. "Estamos todos a remar na mesma direcção. É isso que tem acontecido e que vai acontecer", disse o Presidente, recusando "entrar em pormenores" sobre o Banco de Portugal. "

Não vou entrar em pormenores. "O que interessa é a ideia geral. É bom termos banca forte, instituições financeiras fortes", repetiu Marcelo, salientando que "tudo o resto é menos importante do que este objectivo."