Budapeste vai retirar candidatura aos Jogos Olímpicos de 2024

Movimento que pedia um referendo acusa Governo de Orbán de "cobardia" e de não querer uma decisão democrática.

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Cartaz de apoio às Olímpiadas em Budapeste. O Governo anunciou que irá recuar LASZLO BALOGH/Reuters

Era um projecto acarinhado pelo Governo de Viktor Orbán: Budapeste receber os Jogos Olímpicos de 2024. Mas, ameaçado com um referendo que provavelmente iria perder, o Executivo recuou na candidatura, culpando “divisões nacionais”.

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Era um projecto acarinhado pelo Governo de Viktor Orbán: Budapeste receber os Jogos Olímpicos de 2024. Mas, ameaçado com um referendo que provavelmente iria perder, o Executivo recuou na candidatura, culpando “divisões nacionais”.

Tudo se deve à acção de um grupo que se quer lançar na política: o Movimento Momentum, que apareceu aparentemente do nada (mas que se preparava desde 2015) para exigir um debate público sobre um investimento gigante para um país como a Hungria: as primeiras estimativas apontavam para um custo de cerca de 7% do PIB, para receber os Jogos Olímpicos.

Recolhendo 266 mil assinaturas em 30 dias para levar a questão a referendo, quando eram apenas necessárias 138 mil, o movimento ganhou um ímpeto inesperado. Tentando cortá-lo, o Governo anunciou que recuava na candidatura.

Mas isto não deixa o executivo imune a críticas. Um porta-voz do grupo, Gergo Papp, acusou o Governo de “cobardia” por não querer enfrentar um debate e permitir uma votação.

Dóra Pásztory, nadadora que ganhou o ouro nos Jogos Paralímpicos (em Atenas e Sydney) e jornalista, comentou ao PÚBLICO que o Governo ignorou a vontade das pessoas de debaterem a questão e decidiu, mais uma vez, sozinho: “Isto não é democracia.” “As pessoas que assinaram a favor de um referendo queriam discutir a questão. O Governo ignorou deste desejo”, explica.

Hamburgo já desistiu da candidatura na sequência de um referendo, e Roma também. Budapeste ainda não formalizou o recuo mas o Governo já anunciou que irá desistir, mantendo-se Paris e Los Angeles, que já eram as cidades consideradas favoritas.

Esta não é a primeira vez que o executivo de Viktor Orbán, fortalecido nas últimas eleições, em 2014, e em alta nas sondagens para as próximas (tem mais popularidade do que todos os partidos da oposição juntos), recua perante a ameaça de uma votação popular que pudesse perder. Lembra a Bloomberg que no ano passado, o Governo desistiu da proibição de abertura de lojas ao domingo depois de o Supremo aprovar uma consulta popular.

Mas há quem veja uma promessa de mudança no Movimento Momentum. O grupo é composto na maioria por jovens nascidos por volta de 1989, quando a Hungria saía do comunismo. Assume-se como político mas não ideológico, e há quem espere que possa surgir como uma alternativa para as eleições do próximo ano.

“Espero que a decisão do Governo torne o movimento mais forte”, diz Dóra Pásztory. “O que o Movimento Momentum fez nas últimas semanas, como comunicaram, como argumentaram e como mobilizaram a nova geração, é um exemplo muito positivo de acção política.”

A Reuters sublinha que nenhum grupo da oposição conseguiu ter um impacto comparável numa questão importante desde que Orbán chegou ao poder em 2010. Mas mesmo que o movimento tenha conseguido marcar um “doloroso” reves para o Fidesz, o partido de Orbán, ainda é muito cedo para medir o que poderá conseguir nas próximas legislativas, comentou Zoltan Novak, do centro de estudos para Análise Política Justa de Budapeste. Se conseguirem atrair eleitores jovens “terão uma hipótese realista de entrar no Parlamento em 2018”. Mas “neste momento não sabemos quão forte é o movimento.”