O que quer dizer a remodelação nas Finanças

A notícia da mini-remodelação nas Finanças tem um só significado: a aliança Costa-Centeno ganhou mais um ano.

Mourinho Félix não é propriamente um secretário de Estado popular. Entrou no Largo do Rato pela mão de Mário Centeno, num outrora famoso grupo de trabalho que preparava o programa económico de António Costa. Naqueles primeiros meses, lembro-me que deixou muitos socialistas fascinados pelas fórmulas que introduziu no documento, pelo modo como tentou demonstrar que era possível outra governação, menos presa à austeridade.

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Mourinho Félix não é propriamente um secretário de Estado popular. Entrou no Largo do Rato pela mão de Mário Centeno, num outrora famoso grupo de trabalho que preparava o programa económico de António Costa. Naqueles primeiros meses, lembro-me que deixou muitos socialistas fascinados pelas fórmulas que introduziu no documento, pelo modo como tentou demonstrar que era possível outra governação, menos presa à austeridade.

Até às legislativas, Centeno e Mourinho eram o alfa e ómega da estratégia de Costa. Eram eles a prova viva de que a esquerda podia ser diferente e ser credível. Mesmo que isso fosse apenas uma imagem, um discurso. Faltava a prova dos nove.

Essa não começou bem. Veio o Banif, o primeiro orçamento, o embate com Bruxelas, a Caixa, o caso Domingues. Ao longo de mais de um ano, Mourinho foi a sombra de Centeno: o homem a quem o ministro confiou a solução para o Banif, uma outra para a Caixa; a quem passou as negociações directas da recapitalização em Bruxelas e em Frankfurt, a contratação de Domingues, que sempre o acompanhava nos roadshows para mostrar que Portugal não era o que parecia de fora (um país em reversão, destinado a novo resgate).

Mas um ano é muito tempo. E a política é uma trituradora. Como Mourinho Félix não é um político, à primeira polémica que pôs o PS em xeque (a das declarações de rendimentos que Domingues não queria entregar), a ligação afectiva que algum PS construiu com ele perdeu-se. Sendo o elo mais atacável da dupla do Banco de Portugal, seria a queda dele a demonstrar o fim de uma aliança que foi determinante na construção do PS de Costa.

O anúncio da sua saída da pasta do Tesouro, que ontem conhecemos, podia ser o prenúncio de uma fragilidade. Mas não é. Preservando a pasta de secretário de Estado das Finanças, Mourinho fica com a Caixa na mão, fica com a banca, fica sobretudo com a dificílima missão de procurar uma solução para o malparado da banca.

Mourinho continuará também a ser o número dois de Centeno, numa das maiores equipas da história do Ministério das Finanças — agora com mais um reforço, vindo da mesma escola, a do Banco de Portugal.

À primeira vista, esta remodelação na equipa das Finanças não é sintoma de um problema na aliança entre o PS de Costa e a ala do Banco de Portugal que o levou ao poder. É um sinal de que ela continua viva — e de que Centeno ganhou a força para ir até ao fim, contrariando as notícias prematuras da sua morte política. 2017 vai ser outro ano decisivo. Mas para chegar a ele, Centeno e Mourinho já tiveram que vencer um.