Sem deixar rasto

Já Sinto a Tua Falta é uma tentativa de actualizar o “filme de mulheres” que nunca consegue decidir o que quer ser.

Fotogaleria

Por onde se quiser ver, está aqui uma oportunidade perdida de “actualizar” a woman’s picture clássica, a história “de mulheres” que era um dos “alimentos básicos” dos grandes estúdios.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Por onde se quiser ver, está aqui uma oportunidade perdida de “actualizar” a woman’s picture clássica, a história “de mulheres” que era um dos “alimentos básicos” dos grandes estúdios.

O pressuposto de Já Sinto a Tua Falta, ainda por cima, é feito à “medida” do género: uma amizade de décadas entre duas mulheres que sobrevive a tudo, mesmo ao cancro da mama que é diagnosticado a uma delas. Mas procurar fazer um filme que fale do assunto sem necessariamente cair nas armadilhas do melodrama clássico exige um pouco mais de sensibilidade do que aqui está: há uma sensação de que toda a gente está num filme diferente.

Toni Collette e Drew Barrymore, no papel das duas amigas, parecem estarem a fazer um melodrama clássico; a argumentista Morwenna Banks parece ter querido escrever uma sitcom doce-amarga e alinhado os momentos fortes num filme de duas horas; a realizadora Catherine Hardwicke parece estar a querer repetir as emoções arrebatadas de Crepúsculo; e a presença constante de canções rock está lá a sublinhar tudo a um desnecessário traço grosso. Apesar de um ou outro momento (as cenas na cabeleireira, com uma magistral Frances de la Tour, ou do último almoço, que têm a sobriedade ausente do resto do filme), nunca nada “dá a bota com a perdigota”, e Já Sinto a Tua Falta acaba por não deixar rasto.