Tempestade em copo de água

Xavier Dolan põe um leque de vedetas aos gritos uns com os outros durante hora e meia sem que o resultado chegue a algum lado: Tão Só o Fim do Mundo.

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E, ao sexto filme, Xavier Dolan esbarra com força nos limites do seu cinema, convocando um leque de vedetas para andarem aos gritos uns com os outros durante hora e meia sem que o resultado chegue a algum lado.

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E, ao sexto filme, Xavier Dolan esbarra com força nos limites do seu cinema, convocando um leque de vedetas para andarem aos gritos uns com os outros durante hora e meia sem que o resultado chegue a algum lado.

O que o menino-prodígio canadiano que Cannes tornou num fenómeno crítico faz ao adaptar a peça de Jean-Luc Lagarce com um elenco de peso é uma tentativa de “subir de patamar” que nunca sai do mesmo sítio.

A premissa é relativamente convencional: um dramaturgo de sucesso (Gaspard Ulliel) regressa à cidadezinha provinciana onde cresceu para dar à família que não vê há mais de dez anos a notícia da sua doença terminal. A família, claro, é disfuncional até à quinta casa; Dolan filma-a quase sempre em grande plano, em cima do rosto, para melhor apanhar cada esgar, cada lágrima, cada sorriso, cada grito, revelando um voyeurismo paredes-meias com o intrusivo, quase com o abusivo. Seria uma opção estética defensável se Tão Só o Fim do Mundo chegasse a algum lado em vez de andar às voltas sem sair do mesmo sítio, sem que a sua trama ofereça qualquer redenção, justificação ou apaziguamento – é um ajuste de contas familiar que deixa tudo na mesma, tal como o filme parece repisar coisas que Dolan já fez antes (em Tom na Quinta e Mommy).

As personagens não têm espessura, são bonecos histéricos unidimensionais, desbaratando os seus actores (a excepção é uma irreconhecível Nathalie Baye no papel da mãe). Não é apocalíptico, é apenas maçador.