Convite a Martins gera mal-estar no PSD mas é elogiado por Santana

Antigo primeiro-ministro diz que escolha de José Eduardo Martins para coordenar programa autárquico em Lisboa é “boa”.

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Santana Lopes ainda é visto como potencial candidato à Câmara de Lisboa no PSD Miguel Madeira

A decisão da concelhia social-democrata de Lisboa de nomear José Eduardo Martins coordenador do programa eleitoral autárquico na capital – à revelia da direcção – foi bem recebida por aquele militante que o PSD ainda espera que venha a ser o candidato à câmara – Pedro Santana Lopes. O anúncio gerou polémica interna, mas foi desvalorizado pela direcção do PSD.

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A decisão da concelhia social-democrata de Lisboa de nomear José Eduardo Martins coordenador do programa eleitoral autárquico na capital – à revelia da direcção – foi bem recebida por aquele militante que o PSD ainda espera que venha a ser o candidato à câmara – Pedro Santana Lopes. O anúncio gerou polémica interna, mas foi desvalorizado pela direcção do PSD.

Foi a uma terça-feira – dia do espaço habitual de comentário de Pedro Santana Lopes da SIC Notícias – que o líder da concelhia de Lisboa, Mauro Xavier, anunciou a escolha do coordenador do programa eleitoral de Lisboa, José Eduardo Martins, um crítico da liderança de Passos Coelho. Pedro Santana Lopes, provedor da Santa Casa da Misericórdia e um dos nomes fortes para Lisboa, só teceu elogios a Martins, considerando que “é um desafio positivo”. E lembrando que o advogado integrou o Governo que liderou (foi secretário de Estado do Ambiente), Santana Lopes considerou que José Eduardo Martins “é o que se costuma dizer um tipo inteligente”.

“É uma boa escolha para o programa, já que ele não está feito ainda”, disse o antigo primeiro-ministro. Esse foi precisamente o argumento utilizado pelo líder da concelhia para avançar com esta iniciativa. É que a direcção nacional do PSD impôs este período como o momento da discussão de propostas e de ideias para a cidade. Só depois de 17 de Outubro – data das eleições regionais nos Açores – é que se começa a falar de nomes (os que voltam a candidatar-se) e no caso de Lisboa a apresentação do cabeça de lista pode mesmo ser adiada até Março do próximo ano.

José Eduardo Martins, 46 anos, foi deputado e também secretário de Estado do Desenvolvimento Regional no Governo liderado por Durão Barroso. O jurista vive em Lisboa e trabalha desde 2005 no escritório Abreu Advogados, o mesmo do ex-líder do PSD e comentador televisivo, Luís Marques Mendes.   

A iniciativa da concelhia está a ser vista internamente como uma afronta ao presidente do partido, mas Mauro Xavier rejeita essa leitura. “O PSD de Lisboa entendeu que este era o tempo para discutir o programa eleitoral para Lisboa e que será entregue ao futuro candidato do PSD”, afirmou ao PÚBLICO. O líder da concelhia admitiu que, depois, o programa “tem que ser visto” com aquele que será o candidato. E, sem apontar nomes em concreto, reconheceu em entrevista ao jornal i, há uma semana, que Santana Lopes deixou uma “obra notável” em Lisboa. Ao mesmo tempo excluiu apoio à líder do CDS, Assunção Cristas, que avançou como candidata à capital.

O anúncio da concelhia do PSD foi feito à revelia da direcção do partido, mas não da distrital que foi informada dois dias antes. “A distrital foi avisada. José Eduardo Martins é um militante ilustre. Isto é sinal de que o partido está aberto”, afirmou o líder daquela estrutura, Miguel Pinto Luz.

A reacção da direcção do partido foi desvalorizar a iniciativa. A vice-presidente do PSD, Teresa Leal Coelho, afirmou que a direcção do partido continua “serena” a cumprir o calendário definido. “Não desautoriza o partido quem quer, desautoriza quem pode”, disse ao PÚBLICO a dirigente nacional e vereadora na Câmara de Lisboa. Sublinhando que “essa comunicação responsabiliza o próprio autor”, a vice-presidente do partido questionou o timing do anúncio, quando é conhecido o calendário do partido: “Qual é a pressa?”

Teresa Leal Coelho desafia mesmo o presidente da concelhia a assumir quais os apoios que tem para anunciar esta decisão. “Em democracia, a transparência é a regra, aqueles que têm os apoios de um anúncio público têm de ser revelados”, sustenta. A vice-presidente refere que a direcção do partido irá cumprir o calendário definido para as eleições autárquicas de 2017 e, nesse sentido, só no início do próximo ano o partido avançará com um candidato, mesmo depois de Assunção Cristas se ter apresentado como candidata.

Depois da manchete do DN que dava conta da surpresa da direcção do partido, o líder do PSD enviou esta quarta-feira de manhã um SMS a José Eduardo Martins a agradecer a colaboração e a dar-lhe os parabéns por ter aceitado o convite, como avançou o Expresso online e o PÚBLICO confirmou.