Na era Obama, o descontentamento racial cresceu nos Estados Unidos

As mortes de dois homens negros no Oklahoma e Carolina do Norte reacenderam as tensões raciais motivadas pela violência policial.

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Manifestação esta semana em frente à sede da polícia de Tulsa Nick Oxford / Reuters

As mortes de dois homens negros desarmados, no Oklahoma e na Carolina do Norte, são só os últimos exemplos de uma sucessão de casos que mantém acesa a polémica sobre a existência de racismo institucional entre as forças de segurança dos Estados Unidos, que desproporcionalmente atiram, detêm, interrogam ou fazem buscas a cidadãos negros (ou de outras minorias étnicas) do que brancos. E de uma forma mais geral, de um recrudescimento das tensões raciais no país, após a eleição do primeiro Presidente negro da sua História.

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As mortes de dois homens negros desarmados, no Oklahoma e na Carolina do Norte, são só os últimos exemplos de uma sucessão de casos que mantém acesa a polémica sobre a existência de racismo institucional entre as forças de segurança dos Estados Unidos, que desproporcionalmente atiram, detêm, interrogam ou fazem buscas a cidadãos negros (ou de outras minorias étnicas) do que brancos. E de uma forma mais geral, de um recrudescimento das tensões raciais no país, após a eleição do primeiro Presidente negro da sua História.

A questão está na ordem do dia principalmente desde a morte do jovem Michael Brown, na cidade de Ferguson, no Missouri, em 2014: o episódio deu origem a protestos que rapidamente se tornaram violentos motins, e abriu um debate público que mais do que vincar as diferenças políticas, expôs o enorme fosso que continua a existir na sociedade norte-americana no que diz respeito ao tema da raça – duas visões muito distintas e por vezes baseadas na incompreensão e desconhecimento, mas também na intolerância e discriminação.

Nesse debate, a figura de Barack Obama, o primeiro Presidente negro, assumiu protagonismo. Para os seus detractores, a sua eleição veio “acicatar” as tensões raciais no país: os opinion-makers das fileiras conservadoras acusaram Obama, depois de todos os seus comentários sobre mortes de negros às mãos da polícia, de proferir discursos “divisivos” e “inflamatórios”; na sua perspectiva, o facto de haver um homem negro na Casa Branca não é um sinal de progresso nas relações raciais, mas antes um obstáculo.

Para os seus apoiantes, o facto de as comunidades negras se poderem rever no Presidente do país permitiu-lhes encontrar um interlocutor compreensivo para o seu descontentamento, a quem podem reclamar, mais abertamente, contra as situações de discriminação ou a falta de oportunidades. Mas depois do optimismo com a sua eleição, rapidamente perderam a esperança de uma mudança: para muitos comentadores liberais, na raiz da oposição política ao Presidente está, precisamente, o racismo.

Como seria previsível, os mais recentes episódios de violência policial mereceram a atenção dos dois candidatos presidenciais, que também eles ofereceram opiniões distintas e contextualizaram de forma radicalmente diferente o problema. O republicano Donald Trump afirmou que as drogas estão na base da violência a que se tem assistido nos últimos dois anos. “Se não estão conscientes, as drogas são um factor muito, muito grande para aquilo que estão a ver na televisão à noite”, afirmou. Já a democrata Hillary Clinton alertou para o sentimento no seio das comunidades negras de que “a sua vida não conta” – dando crédito aos argumentos do movimento “Black Lives Matter”.

Depois de Ferguson, esse slogan foi repetido depois da morte de vários cidadãos negros às mãos da polícia em circunstâncias que para a maioria dos observadores constituem abuso da autoridade: homens que foram detidos e depois baleados por terem um farol do automóvel partido ou por terem sido apanhados a fazer contrabando de cigarros ou crianças abatidas por estarem a brincar com armas de brincar.

Em Charlotte, a maior cidade da Carolina do Norte, depois de três noites de protestos de rua (nos quais um manifestante foi atingido a tiro e dois polícias feridos) foi instaurado o recolher obrigatório e mais tarde declarado o estado de emergência. As manifestações começaram depois da morte de Keith Lamont Scott, um homem negro que foi baleado pela polícia em circunstâncias ainda por esclarecer: os manifestantes exigem a divulgação do vídeo de câmaras de vigilância para confirmar a justificação das autoridades de que atiraram porque o suspeito estava armado.

No Oklahoma, um tribunal de Tulsa acusou a agente da polícia Betty Shelby de homicídio involuntário pela morte de Terence Crutcher, um homem negro de 40 anos. A agente encontrou Crutcher na última sexta-feira ao lado do seu carro que teve uma avaria e estava parado no meio de uma estrada. Shelby foi a primeira agente a chegar ao local.

As imagens das câmaras de um helicóptero que sobrevoava o local mostram Cruchter, com as mãos no ar, a recuar na direcção do seu veículo perante dois agentes com as armas apontadas. Quando o homem parece aproximar-se da janela do lado do condutor os agentes disparam. Shelby justificou-se dizendo que o suspeito não obedecera às suas ordens, apesar de as imagens mostrarem o suspeito a cumprir as instruções dos polícias.

O advogado de defesa da polícia, Scott Wood, disse que a agente suspeitou que Crutcher estava sob efeito de PCP, uma droga química com efeitos alucinogénios, também conhecida como “pó-de-anjo”. As queixas apresentadas contra a agente defendem que “o seu medo resultou nas suas acções desproporcionadas que a levaram a balear” Crutcher — uma decisão considerada “ilegal e desnecessária”. A família de Crutcher disse que esta foi “uma pequena vitória”. “A corrente parte aqui. Vamos quebrar as correntes da brutalidade policial”, disse à CNN a irmã da vítima, Tiffany.