Os nossos dias, 40 anos depois

Três anos depois da última reposição, Taxi Driver volta às salas com o pretexto do 40º aniversário da estreia.

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Taxi Driver faz 40 anos mas parece falar de nós hoje

Se é sempre bom poder ver filmes “clássicos” repostos em grande écrã, começa a tornar-se inexplicável porque é que as escolhas recaem tanto sobre “os mesmos” de sempre.

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Se é sempre bom poder ver filmes “clássicos” repostos em grande écrã, começa a tornar-se inexplicável porque é que as escolhas recaem tanto sobre “os mesmos” de sempre.

Aconteceu não há muito tempo com Até à Eternidade de Fred Zinnemann, acontece agora com o Taxi Driver de Scorsese, que ainda há três anos tinha estado nas salas (numa cópia já de si restaurada) e reaparece agora com o pretexto do 40º aniversário da sua estreia. Claro que isso não invalida que Taxi Driver continue a ser um clássico: a história de um taxista que se auto-proclama vigilante da moral e dos bons costumes numa Nova Iorque filmada como Sodoma e Gomorra resume-se toda na frase que ficou imortal, “é comigo que estás a falar?”, “are you talkin’ to me?”.

Esta cápsula do tempo negra e niilista da ressaca do pós-summer of love, do Vietname, do Watergate, este olhar inquieto sobre uma América polarizada entre “nós” e “eles”, é até um filme que parece falar dos nossos dias de paranóia e medo, mesmo que à distância de 40 anos.

E continua a ser um dos (talvez mesmo até “o”?) pontos altos da obra de Scorsese, espécie de “olho do furacão” ou “último hurra” da rebeldia da geração dos movie brats antes do Tubarão de Spielberg e da Guerra das Estrelas de Lucas chegarem para instalar o primado do entretenimento. Mas, com tantos clássicos que nunca têm a oportunidade de regressar às salas onde pertencem, insistir sistematicamente nos mesmos títulos – e Taxi Driver nunca foi um objecto invisível ou difícil de encontrar, em formatos caseiros ou em ciclos temáticos – é inexplicável.