Fórum Florestal critica "ensurdecedor silêncio do ministro da Agricultura”

"Serão necessárias alterações profundas e estratégicas, muitas das quais dependem exclusivamente do poder político", avisam produtores florestais

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Ministro da Agricultura justificou afastamento da anterior equipa com baixa execução do programa Miguel Manso

Os produtores florestais alertaram este sábado para a insustentabilidade da paisagem rural perante grandes cargas de biomassa e defenderam ser impossível controlar a situação somente através da aposta no combate aos fogos, sendo necessária uma mudança de atitudes e tradições.

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Os produtores florestais alertaram este sábado para a insustentabilidade da paisagem rural perante grandes cargas de biomassa e defenderam ser impossível controlar a situação somente através da aposta no combate aos fogos, sendo necessária uma mudança de atitudes e tradições.

Perante os vários incêndios florestais que têm afectado o país nos últimos dias, o Fórum Florestal, que reúne associações de produtores florestais defende que "serão necessárias alterações profundas e estratégicas, muitas das quais dependem exclusivamente do poder político". E critica "o ensurdecedor silêncio dos últimos dias do sr. ministro da Agricultura e do sr. secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural", o qual "prenuncia já o sentir do enorme peso e responsabilidade que a presente situação coloca sobre os seus ombros".

O comunicado do Fórum Florestal, assinado pelo seu presidente, António Louro, assegura que "os produtores saberão assumir as suas responsabilidades e estarão disponíveis para contribuir para a construção de um sector florestal mais sustentável para Portugal".

"Os factos demonstram a insustentabilidade da paisagem rural nacional perante tão elevadas cargas de biomassa, a insuficiência das políticas existentes para reverter a situação e a impossibilidade" de solucionar o problema através "da mera aposta no combate aos incêndios florestais", observa a organização. A dimensão da questão "é tal que demorará décadas a corrigir”, e exigirá “uma mudança profunda de atitudes, hábitos, tradições e acomodações", realçam os produtores florestais, antecipando que a mudança “causará incómodos, desconforto e contestação".

"Portugal vive novamente dias de luto e tristeza, por aqueles que perderam a vida em consequência dos trágicos incêndios dos últimos dias, pagando o preço extremo por viver num país que demonstra uma enorme incapacidade de cuidar do seu território e das suas gentes", salienta o Fórum Florestal, agradecendo o esforço daqueles que procuram "atenuar a dimensão da tragédia".

E lembra que, se há proprietários ausentes e não activos na gestão das suas propriedades, que “assim contribuíram para o avolumar da tragédia”, muitos outros “viram desaparecer o fruto de imenso trabalho e dedicação." Depois dos incêndios, "os proprietários começam a tentar vender, agora por um preço justo, amanhã por qualquer preço, a madeira das árvores mortas a madeireiros que vão ganhar muito bom dinheiro". Já as indústrias "irão criar produtos que venderão ao mesmo preço de sempre, ganhando mais do que de costume".

Segundo dados desta organização, a floresta representa cerca de 5% do Produto Interno Bruto, mais de 9% das exportações e quase 90 mil postos de trabalho.