O lento regresso à normalidade no Funchal

Já sem incêndios activos, o último foi extinto durante a manhã, a capital madeirense quer voltar a encher-se de turistas. António Costa passou por lá durante a tarde. Visitou os locais mais afectados, cumprimentou os bombeiros, e fez tudo para mostrar que a Madeira está a funcionar.

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Ainda não acabou. No Funchal, que o primeiro-ministro visitou durante a tarde de quinta-feira, o último incêndio que ainda teimava arder foi extinto pela manhã, mas no lado Oeste da ilha, as chamas continuavam activas, embora sem as proporções e o dramatismo dos dias anteriores.

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Ainda não acabou. No Funchal, que o primeiro-ministro visitou durante a tarde de quinta-feira, o último incêndio que ainda teimava arder foi extinto pela manhã, mas no lado Oeste da ilha, as chamas continuavam activas, embora sem as proporções e o dramatismo dos dias anteriores.

A região autónoma, que desde segunda-feira está a ser assolada por incêndios, regressa lentamente à normalidade. No RG3, o quartel do exército que foi um dos portos de abrigo para os que fugiram das chamas que passearam pela capital madeirense, chegou a ter mais de 600 pessoas. Só lá estão agora pouco mais de duas centenas.

Também os turistas evacuados de uma unidade hoteleira na baixa da cidade, onde o fogo nunca tinha antes visitado até este Agosto infernal, já regressaram. E os doentes, retirados à pressa de dois hospitais, voltam para as enfermarias no fim-de-semana.

O tempo, agora é de contabilizar os danos. Ver as necessidades. Quantificar os prejuízos. Foi isso que Costa foi à Madeira dizer, um dia depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter por ali passado.

O primeiro-ministro, esticou mesmo a visita para mostrar ao mundo, que a ilha paradísica ainda existe. Está ali.  É preciso, repetiu ao longo das paragens, falar de “normalidade” e de “reconstrução” porque uma região que vive do turismo, precisa de quem a visite. No programa está uma ida aos locais mais afectados e uma reunião com o governo local e autarquias, mas Costa não quis regressar a Lisboa sem cumprimentar as duas corporações de bombeiros da cidade, nem deixar dar uma palavra de conforto aqueles que ainda dormem nas camas de campanha no RG3.

Sempre acompanhado do chefe do executivo regional, Miguel Albuquerque, e do autarca do Funchal, Paulo Cafôfo, Costa deu ainda um salto ao Castanheiro Boutique Hotel, uma das unidades evacuadas, já a funcionar normalmente.

"Há muito para reconstruir, mas há também muito a funcionar", disse aos jornalistas, vincando que a ilha continua a ser um destino maravilhoso de férias.

"Não vamos atirar fogo sobre o fogo", continuou, insistindo na ideia de que, terminados os incêndios, é preciso passar uma mensagem de normalidade. A Madeira, lembrou, vive do turismo, e como as notícias chegam a todo o lado, Costa pediu aos jornalistas que mostrassem também que a região funciona.

Mas primeiro, foi ver o que (ainda) não funciona. No Largo das Babosas, freguesia do Monte, que foi varrida pela enxurrada de 2010, e consumida três anos depois por incêndios, a comitiva encontrou Maria José. “Desta vez eu não saí de casa. Não saí...", disse a voz rouca da mulher, num misto de heroísmo e fatalidade.

Mais abaixo, no Alto da Pena, onde o fogo que desceu à cidade deixou três pessoas carbonizadas, Costa demorou-se. Entrou numa das casas, falou com vizinhos, e seguiu caminho, depois de notar aos jornalistas que a malha urbana da cidade, onde becos e travessas se entrecruzam tornou a situação ainda mais complicada.

E meios aéreos? Perguntaram. O primeiro-ministro ressalva que não é especialista. Que só sabe aquilo que lhe foram ensinando, mas admite dúvidas sobre a viabilidade na Madeira, pelo menos no meio da cidade. “Um metro cúbico de água atirado do céu, é quase uma tonelada que se abate sobre a terra.”

Já perto do final da visita, depois da reunião com Albuquerque e autarcas de concelhos afectados, Costa insistia que o tempo era de união, não de polémicas. “Perante uma situação tão difícil e tão dramática, não faz sentido acrescentar mais problemas”, disse, quando a pergunta era sobre o timing do pedido de ajuda da Madeira a Lisboa. Mas Albuquerque não quis fugir à questão. Às 16 horas, a situação estava controlada, depois o vento mudou. Foi imprevisível, vincou.

Do encontro não saiu uma verba para ajudar. É preciso primeiro fazer um levantamento exaustivo do que foi destruído, do que ficou danificado. De quem - famílias e empresas - realmente precisa de ajuda.

A “metodologia de trabalho” está traçada, bem como as prioridades: Duas linhas de crédito serão abertas, o Fundo de Solidariedade de Bruxelas será explorado, e um apoio imediato para o alojamento temporário dos que não têm casa para voltar. Dentro de duas semanas, a Madeira terá, garante Albuquerque, um número exacto das necessidades do arquipélago. Só no Funchal, de acordo com as contas de Cafôfo, o valor ultrapassa já os 55 milhões de euros.

Outras das prioridades é convocar o Laboratório Nacional de Engenharia Civil e o seu congénere militar para trabalhar na consolidação das escarpas atingidas pelo fogo. Sem vegetação que as sustente, e como depois do calor vem a chuvas, a cidade teme nova tragédia, agora pela mão do Inverno.