Rússia anuncia corredores para a saída da população das zonas cercadas de Alepo

Exército sírio anunciou ter cortado todas as linhas de abastecimento da oposição. Há 300 mil pessoas nos bairros controlados pela oposição e comida só para duas ou três semanas.

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Adolescentes lêem um dos panfletos largados pela aviação síria pedindo aos residentes das zonas cercadas que colaborem com os militares Abdalrhman Ismail/Reuters

Depois de apoiar o Exército sírio a apertar o cerco aos bairros controlados pelos rebeldes no Leste de Alepo, bombardeados ainda com maior intensidade nos últimos dias, a Rússia anunciou a abertura de corredores humanitários para permitir a saída de civis e combatentes que entreguem as armas. Na zona vivem cerca de 300 mil pessoas e a ONU calcula que a comida e os medicamentos se esgotem em duas ou três semanas.

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Depois de apoiar o Exército sírio a apertar o cerco aos bairros controlados pelos rebeldes no Leste de Alepo, bombardeados ainda com maior intensidade nos últimos dias, a Rússia anunciou a abertura de corredores humanitários para permitir a saída de civis e combatentes que entreguem as armas. Na zona vivem cerca de 300 mil pessoas e a ONU calcula que a comida e os medicamentos se esgotem em duas ou três semanas.

“A situação é realmente muito má. Não há comida suficiente na cidade. Toda a gente está muito assustada e com fome”, contou à CNN o jornalista sírio Karam Al Masri, na quarta-feira, dia em que as forças do regime de Bashar al-Assad anunciaram ter cortado “todas as linhas de abastecimento” à zona Leste daquela que já foi a capital económica da Síria. Conquistaram também o bairro de Bani Zeid, no Noroeste, de onde os rebeldes disparavam rockets contra a metade Oeste da cidade.

Um cerco que se foi completando desde que no dia 17 o Exército deu por consumado o controlo da estrada de Castello, a última via que ligava os bairros em poder da oposição às aldeias a Norte e à vizinha Turquia – um percurso que há meses é alvo fácil para franco-atiradores e a artilharia. Desde dia 7 que nenhuma ajuda chega à cidade e nos últimos dias, quatro hospitais e um depósito onde eram guardados alimentos foram bombardeados.

Masri disse que os residentes temem uma ofensiva militar, mas acredita que o objectivo do regime é “deixar a população à fome para forçar a rendição, tal como aconteceu em Homs”, que foi a capital da revolta contra Assad, em 2011. Várias organizações humanitárias alertaram para a catástrofe humanitária que ameaça a cidade, onde as pessoas esperam horas para comprar um pedaço de pão e restam apenas 31 médicos nos raros hospitais que ainda têm alas a funcionar.

É neste contexto que, nesta quinta-feira, o ministro da Defesa russo, Serguei Choigu anunciou uma “operação humanitária de grande dimensão” na cidade que incluirá a abertura – ao que tudo indica temporária – de três corredores para permitir a “saída de civis que foram feitos reféns pelos terroristas, bem como de combatentes dispostos a depor as armas”. O ministro evocou o envio de ajuda de emergência através destas vias e revelou que um quarto corredor, exclusivamente para rebeldes que se entreguem, através da estrada de Castello. Na mesma altura em que, em Damasco, Assad anunciava uma amnistia, durante três meses, para os combatentes que entreguem as armas ou libertem reféns em seu poder.

A televisão estatal síria noticiou que “tudo está pronto para receber [os deslocados] em estruturas temporárias” na parte ocidental da cidade. Um jornalista da AFP na cidade revelou que aviões do regime lançaram sobre o sector panfletos com o mapa dos quatro corredores, mas ao deslocar-se a um deles disse não haver qualquer movimentação. Noutros panfletos largados, o Exército convida a população a colaborar com os militares e a pressionar os combatentes a render-se.

Questionado sobre a iniciativa, o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, escusou-se a fazer comentários, explicando que “tal como toda a gente” a organização não foi consultada. Disse, no entanto, que a zona controlada pelos rebeldes está “de facto cercada” e “há apenas comida para duas ou três semanas”. “O relógio está a contar, não há dúvida disso”.