Costa considera “imoral” que Bruxelas queira aplicar sanções a Portugal

Secretário-geral do PS arrasa a troika que impôs quatro anos de austeridade e lembra que as instituições europeias não pouparam elogios ao anterior Governo, que excedeu em 0,2% os limites do défice

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Um dia depois de o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, ter admitido que Portugal precisaria de um segundo resgate, se não cumprisse o acordado com a zona euro, o líder do PS e primeiro-ministro, António Costa, questionou esta sexta-feira a moral de Bruxelas para pretender aplicar sanções por défice excessivo a Portugal, quando o FMI, Banco Central Europeu e  Comissão Europeia elogiaram o anterior Governo, por ter sido um “bom aluno” e ter executado bem o programa de ajustamento.

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Um dia depois de o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, ter admitido que Portugal precisaria de um segundo resgate, se não cumprisse o acordado com a zona euro, o líder do PS e primeiro-ministro, António Costa, questionou esta sexta-feira a moral de Bruxelas para pretender aplicar sanções por défice excessivo a Portugal, quando o FMI, Banco Central Europeu e  Comissão Europeia elogiaram o anterior Governo, por ter sido um “bom aluno” e ter executado bem o programa de ajustamento.

“Que fique muito claro, o tema das sanções é, em primeiro lugar, um tema imoral”, disparou António Costa, no encerramento da conferência Relançar a Europa – da austeridade ao crescimento, promovida pelo Grupo da Aliança Progressistas dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu (S&D).

O líder socialista não aceita que os elogios tenham ficado para o anterior Governo, que, “apesar de ter sido um aluno excepcional, excedeu em 0,2 % (360 milhões de euros) os limites do défice, nem que as instituições europeias, que co-executaram o programa de ajustamento, queiram agora aplicar sanções a Portugal”. “Mas qual é a moralidade de quem andou a apoiar esse Governo para agora querer aplicar sanções?”

Costa apontou os sacrifícios que foram exigidos aos portugueses nos quatro anos de austeridade do anterior Governo - “deixou Portugal com 600 mil desempregados, 350 mil portugueses tiveram e emigrar e milhares de empresas foram obrigadas a encerrar”. A isto acrescentou a “subida em 10% da pobreza e em 30% da pobreza infantil”.

Feito o diagnóstico, perguntou: “É proporcional a este desvio, depois deste esforço que foi feito pelo povo e do esforço que - é preciso reconhecer - que o anterior Governo fez para cumprir estas medidas, criar agora uma enorme perturbação nos mercados, a acrescentar à crise do 'Brexit', à crise dos refugiados, à crise do terrorismo, mais uma crise a Portugal e a Espanha? Haja sentido dos limites”, proclamou.

O tema das sanções tinha sido antes abordado pelo eurodeputado Francisco Assis, que criticou a “insistência obsessiva” daqueles que escolhem o “caminho do castigo”. “Nós, neste momento, não sabemos bem que respostas a Europa pode dar a muitos problemas com que estamos confrontados e, verdadeiramente, ninguém sabe e tem respostas mágicas. Mas nós sabemos que há algumas respostas que não podem ser dadas”, declarou, para logo acrescentar: “Esta insistência obsessiva de alguns sectores europeus e até de alguns membros da Comissão Europeia na ideia de aplicações de sanções a Portugal e a Espanha é a demonstração de que há hoje na Europa quem não esteja a perceber nada do que se está no nosso espaço político europeu”. Os aplausos ecoaram na sala.

“Não faz qualquer sentido que, perante a dimensão dos problemas com que estamos confrontados, ainda haja quem esteja obstinadamente empenhado em seguir por este caminho do castigo", disse ainda Assis, afirmando que ao "fundamentalismo e fanatismo"  só se podeopor "a reflexão, o debate, a inteligência”.

Ontem, a partir do Porto, Gianni Pittella, presidente do grupo da Aliança Progressistas dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, também levantou a voz contra Bruxelas, por querer castigar Portugal com sanções.

Já o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, considerou que “este é o momento para o aprofundamento do projecto europeu, o momento de o tornar mais democrático, mais partilhado, mais discutido e mais de todos, garantindo a Europa do futuro”.

Num discurso de boas-vindas, o autarca falou da importância das cidades no relançamento da Europa e destacou a importância do Porto como cidade da “cultura, do pensamento, da crítica e da reflexão”.

O "Brexit" - o mais recente acontecimento na Europa – não ficou fora do discurso do autarca independente. “O 'Brexit' mostra-nos que, pela via democrática e aproveitando a inércia e o desapego de muitos europeus, os extremismos podem colocar em causa muito do que se construiu nas últimas décadas. Mostra-nos também as diferenças que existem quando mais velhos e mais novos olham para a Europa”, disse.

Segundo Moreira, a Europa vive “um momento muito difícil” de “consequências imprevisíveis, com o reforço de alguns nacionalismos e o provável redesenho daquilo que a União Europeia é tal como a conhecemos". "Mas acredito que os que permanecerem ficarão mais unidos e, por isso, mais fortes”, disse.