Este cão “falso” pode salvar muitos verdadeiros

Empresa norte-americana criou um modelo canino sintético para acabar com a prática de cirurgias terminais no ensino da medicina veterinária. Campanha de “crowdfunding” espera arrecadar mais de 22 milhões de euros

Foto
DR

A discussão sobre a experimentação animal tem ganho novo fôlego nos últimos meses. A indústria cosmética já não tem permissão, na União Europeia, para testar em animais e a farmacêutica enfrenta cada vez mais críticas por parte de associações, políticos e activistas. O ensino — sobretudo o universitário — é um dos vértices da discussão e a utilização de animais de abrigos em cirurgias e laboratórios terminais é algo que incomoda, também, os profissionais. A pensar nisso, uma empresa norte-americana especializada na criação de tecidos sintéticos desenvolveu um modelo canino para substituir cães verdadeiros em exercícios académicos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A discussão sobre a experimentação animal tem ganho novo fôlego nos últimos meses. A indústria cosmética já não tem permissão, na União Europeia, para testar em animais e a farmacêutica enfrenta cada vez mais críticas por parte de associações, políticos e activistas. O ensino — sobretudo o universitário — é um dos vértices da discussão e a utilização de animais de abrigos em cirurgias e laboratórios terminais é algo que incomoda, também, os profissionais. A pensar nisso, uma empresa norte-americana especializada na criação de tecidos sintéticos desenvolveu um modelo canino para substituir cães verdadeiros em exercícios académicos.

“Milhares de cães de abrigos são usados todos os anos, em todo o mundo, para treino cirúrgico em faculdades veterinárias. (…) Alguns são entregues [às escolas] vivos para integrarem laboratórios vivos onde os animais são posteriormente eutanasiados.” Assim começa o texto de apresentação do “SynDaver Synthetic Canine”, projecto que quer oferecer 20 modelos caninos a “todas as faculdades veterinárias acreditadas do mundo”.

Os estudantes, futuros médicos veterinários, têm de aprender com modelos que respiram, sangram e morrem, mas, num cenário ideal, estaríamos sempre a falar de cães (e outros animais) falsos. Modelos por vezes assustadoramente realistas — como é o caso deste dos SynDaver Labs — que impediriam a morte de animais pelo avanço da ciência.

Foto

Desenvolvido em parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade da Flórida, este cão sintético é “o mais realista possível”. Tem sistemas digestivo, respiratório e vascular completos e integrados e pode ser utilizado repetidamente para o estudo de várias patologias e o exercício de cirurgias.

Ao equipar, sem custo, as faculdades de medicina veterinária com estes cães sintéticos — algo que já acontece na Flórida, nos Estados Unidos —, “milhares de vidas animais poderiam ser salvas”, lê-se na campanha de “crowdfunding” que a empresa lançou na plataforma Indiegogo. Em causa estão mais de 22 milhões de euros, que os SynDaver Labs esperam angariar até ao início de Agosto.

Quando esta empresa da Flórida foi criada, em 2004, o foco eram os modelos humanos que replicavam a anatomia das pessoas em grande detalhe. Christopher Sakezles, o fundador, marcou presença no programa “Shark Tank” com um "cadáver humano sintético", que também fez uma breve aparição num episódio da série “Grey’s Anatomy”.