Problemas com Korn, nostalgia com Hollywood Vampires e urgência com Metz

Problemas técnicos impediram os Korn de tocarem mais de 25 minutos no Rock In Rio-Lisboa. 56 mil pessoas estiveram presentes.

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Não foi preciso mais de um minuto para se perceber que o concerto dos americanos Korn no Rock In Rio poderia ficar registado na memória pelas piores razões. O grupo de Jonathan Davis tinha acabado de chegar ao palco, 20 minutos depois do previsto, e interpretava Blind, do álbum homónimo de estreia de 1994, quando uma falha do sistema de som o deixou mudo.

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Não foi preciso mais de um minuto para se perceber que o concerto dos americanos Korn no Rock In Rio poderia ficar registado na memória pelas piores razões. O grupo de Jonathan Davis tinha acabado de chegar ao palco, 20 minutos depois do previsto, e interpretava Blind, do álbum homónimo de estreia de 1994, quando uma falha do sistema de som o deixou mudo.

A banda regressou dez minutos depois, a adrenalina entre o público voltou a sentir-se, até o som voltar a falhar exactamente no mesmo momento da canção. O público impacientou-se, o grupo mostrou frustração, e a organização, depois de um longo silêncio, informou que havia um problema técnico. E eis que o grupo voltou pela terceira vez, conseguindo, com canções como Falling away from me, Coming undone ou Shoots and ladders, criar ainda algum alvoroço na assistência. Antes de os problemas ressurgirem na recriação de One, dos Metallica.

Os Korn já não voltaram. “Infelizmente o concerto não vai prosseguir”, ouviu-se da parte da organização do festival. Tocaram quatro canções e meia, durante 25 minutos. O público assobiou, num misto de desapontamento e revolta, e depois do concerto centenas de pessoas assinaram o livro de reclamações na expectativa de serem compensadas. Outras abandonaram o recinto.

Numa nota publicada nas redes sociais, o grupo pede desculpa aos fãs dizendo que teve “vários problemas com a energia em palco.” A organização do Rock In Rio, por sua vez, explicou em comunicado que “tudo indica que o problema foi do equipamento da banda”, e acrescentou ainda que recolheu as reclamações e que lhes dará resposta nos próximos dias.

Os admiradores do grupo de metal estavam em maioria entre as 56 mil pessoas que passaram pelo recinto esta sexta-feira, pelo que o ocorrido foi marcante. E não foram os Hollywood Vampires – a banda que nasceu como forma de homenagear um grupo da boémia dos anos 1970 que se juntava num bar em Los Angeles, e do qual faziam parte músicos de rock conhecidos, entre eles Alice Cooper – a conseguir reanimar os desiludidos.

Foi do próprio Alice Cooper a ideia de, no ano passado, se juntar a Joe Perry (Aerosmith), Matt Sorum (ex-Guns N’ Roses), Robert DeLeo (Stone Temple Pilots) e ao actor Johnny Depp para prestar homenagem a outros tantos músicos rock desaparecidos nas últimas décadas – de Jim Morrison a John Lennon, ou mais recentemente, David Bowie e Lemmy (Motorhead). Em 2015, lançaram um álbum de versões e originais, e agora andam pelo mundo em digressão.

Nas primeiras filas, o público feminino suspirava por Johnny Depp – que nos últimos dias tem sido notícia pela morte da mãe e pela separação conturbada da mulher –, mas este não deu muito nas vistas, preferindo manter-se quase sempre discreto. A excepção foi quando optou por deambular um pouco com a sua guitarra pelas laterais do palco, ou quando se aproximou do microfone para agradecer, mesmo no final da hora e meia de espectáculo.

As atenções acabaram por recair mais em Joe Perry, por exemplo quando tentou sem sucesso partir a sua guitarra contra o estrado da bateria, e principalmente na voz e na presença cénicas de Alice Cooper, quase nos 70 anos. Foi ele que conduziu o público por sucessivas evocações – The Who (My generation), Doors (Break on through), Beatles (Come together), Led Zeppelin (Whole lottta love), David Bowie (Rebel rebel) ou Motorhead (Ace of spades) –, recriações possantes num concerto esforçado, dominado pelos duelos de guitarra e pela duplicação do rock enquanto matriz cultural. Mas nada mais do que isso.  

Antes já haviam actuado os californianos Rival Sons, que apesar de tocarem originais dos seus quatro álbuns acabam por não andar muito longe daquilo que os Vampires têm para propor: reiteração da sonoridade e da atitude rock dos anos 1970, com influências dos Led Zeppelin permeadas por ambientes de blues e muitos solos de guitarra.

Nos antípodas de tudo isto estiveram os canadianos Metz, que tocaram no palco secundário perante algumas centenas de pessoas, e que originaram o melhor concerto do dia. Na sua música também existem reminiscências (Nirvana, Jesus Lizard, Public Image Ltd) mas é como se eles fossem a projecção selvagem e desvairada desse passado. Os Vampires oficializam as celebridades do rock; os Metz mostram que a principal vitalidade do rock continua a ser essa possibilidade de qualquer um subir a um palco, mesmo sem grandes aptidões técnicas, e expressar-se sem simulacros.

Em palco, apenas três músicos, voz, guitarra, baixo e bateria, para canções poderosas, curtas, secas, rápidas e incisivas. Às tantas, a meio, o cantor ironizou dizendo que que estavam a gostar de estar ali, mas que ao mesmo tempo era um pouco estranho para uma banda como os Metz tocar no Rock In Rio. Percebe-se que o diga, porque em anteriores passagens por Portugal haviam tocado em espaços pequenos. Mas o comportamento foi o mesmo de sempre: guitarras distorcidas, descargas rítmicas, gritos ao microfone, contorções furiosas e o volume no máximo. O rock enquanto catarse.

No contexto de um festival que se autocelebra (como se constata com o musical que abre o palco principal), ou que parece limitar-se a oficializar a memória do rock, os Metz são a prova de que este ainda pode ser matéria incandescente. Num ano de cartaz muito enfraquecido, o Rock In Rio prossegue este sábado com Maroon 5 e Ivete Sangalo ou Real Estate, para terminar no domingo com Avicii, Ariana Grande ou Hinds.