A loucura do rei Johnny Depp e mais uma Alice, desta vez do outro lado do espelho

Tim Burton já não mora aqui – é agora uma espécie de vizinho do lado no papel de produtor executivo do novo filme com Depp, Mia Wasikowska e Sacha Baron Cohen. O filme foi apresentado à imprensa este fim-de-semana em Londres.

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Tim Burton não quis realizar mais uma Alice, mas manteve-se por perto de Alice do Outro Lado do Espelho, o novo filme baseado nas personagens de Lewis Carroll que foi mostrado à imprensa este fim-de-semana em Londres. “É o mundo dele”, reconhece o novo realizador, James Bobin, ao PÚBLICO este domingo. E com o Chapeleiro Louco nas imediações - ou melhor, a sua versão rock‘n’roll, Johnny Depp – tudo é possível numa conferência de imprensa. Como provocar a Austrália por causa do recente caso dos cães ilícitos do actor e o vídeo de “desculpas” que fez e se tornou viral ao mesmo tempo que lamenta o estatuto de estrela que lhe tira privacidade.

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Tim Burton não quis realizar mais uma Alice, mas manteve-se por perto de Alice do Outro Lado do Espelho, o novo filme baseado nas personagens de Lewis Carroll que foi mostrado à imprensa este fim-de-semana em Londres. “É o mundo dele”, reconhece o novo realizador, James Bobin, ao PÚBLICO este domingo. E com o Chapeleiro Louco nas imediações - ou melhor, a sua versão rock‘n’roll, Johnny Depp – tudo é possível numa conferência de imprensa. Como provocar a Austrália por causa do recente caso dos cães ilícitos do actor e o vídeo de “desculpas” que fez e se tornou viral ao mesmo tempo que lamenta o estatuto de estrela que lhe tira privacidade.

Em 2010, Burton ofereceu mais um papel transformador e hiperbólico a Depp – em Alice no País das Maravilhas, ele era o Chapeleiro Louco e a sua personagem tornou-se um símbolo do filme. Este domingo, num cenário montado para simular os chás faustosos e coloridos da personagem, o actor equilibra pratos de bolinhos na cabeça, faz rir uma sala rendida ao seu humor provocatório e faz parelha com Sacha Baron Cohen – uma nova aquisição do mundo Alice da Disney, o criador de Borat agora na pele da personagem Tempo.

Embora Alice Do Outro Lado do Espelho tenha uma mensagem directa de empoderamento feminino e a última palavra do guião seja propositadamente “mulher”, é Depp que domina as atenções. Mia Wasikowska é tranquila, ri-se com Depp mas o tom já tinha sido marcado por Cohen, no início da conferência de imprensa. Quis fazer “uma personagem incrivelmente narcisista e incrivelmente inadequada para o emprego mais importante do mundo”, diz sobre o seu Tempo, “um pouco como Donald Trump”.

Ainda pouco se pode revelar sobre a história deste Alice do Outro Lado Espelho – e não, o facto de ter o título do livro que se seguiu a Alice no País das Maravilhas (de 1865) e que foi publicado em 1871 não é indicativo da intriga, visto que é apenas inspirado nas personagens do escritor britânico e recolhe alguns dos seus elementos. Estamos entre a Inglaterra vitoriana e um salto através do espelho que leva Alice novamente ao País das Maravilhas, anos depois dos acontecimentos do filme em que Burton deixou a sua marca excêntrica no território Disney.

O filme que se estreia dia 25 em Portugal é uma fábula de linhas simples sobre a amizade, o poder do tempo e muitos obstáculos de videojogo com efeitos visuais a condizer. E foi sobre viver a vida em CGI (imagens geradas por computador) e efeitos especiais que versou um dos primeiros conselhos de Burton a Bobin, realizador e co-criador da comédia televisiva e musical Flight of the Concords, bem como do próximo Men in Black ou dos dois mais recentes filmes de Os Marretas.

Como colaboraram, perguntou o PÚBLICO, neste regresso a um universo desenhado de forma tão vincada por Burton? Mesmo nos filmes em que não realiza e se senta na cadeira de produtor, o seu toque tende a ser marcado. “Logo desde o início”, responde James Bobin, “ele fez-me um aviso, dizendo–me quão difícil era. E eu ouvi? Não. Ainda estou aqui hoje”, ironiza. Terá sido pelo cansaço de três anos em torno de Alice no País das Maravilhas que Burton não quis voltar a realizar naquele universo e agora, como produtor executivo, “deu-me um conselho espantoso: não filmar com [ecrã] verde, que põe uma pessoa completamente louca. E eu filmei com [ecrã] azul”.

A produtora Suzanne Todd admitira há dias que procuraram alguém capaz de entrar num mundo pré-existente, como se do franchise Harry Potter se tratasse, por exemplo, em que diferentes realizadores realizaram os diferentes filmes. E Burton, que também esteve à mesa em Londres com o resto da equipa mas pouco falou, “criou um mundo tão belo no primeiro filme que senti que devia criar o melhor possível dentro dos parâmetros desse mundo”, continua Bobin falando sobre design de personagens e cenários. Um dos contributos do novo realizador foi o tom de comédia do guião, escrito por Linda Woolverton, e Burton ajudou-o a filmar as cenas passadas em Londres. “É o mundo dele e fiquei muito agradado com o facto de poder ter tido esta experiência.”

Mais louco, confuso, perdido

Feitas as vénias, o Chapeleiro Louco de Johnny Depp continua psicadélico mas é talvez mais vulnerável, “infinitamente mais louco, confuso, perdido e até paranóico e violento”, diz o actor aos jornalistas sobre o regresso ao seu personagem de cabelo laranja. Voltam também Helena Bonham Carter (a Rainha de Copas), Anne Hathaway (a Rainha Branca) e as vozes de Michael Sheen ou de Alan Rickman (que morreu recentemente e tem aqui o seu último papel). Colleen Atwood regressa ao guarda-roupa depois de ter trabalhado em muitos outros filmes de Burton, entre os quais a sua Alice de 2010.

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Aquele que foi o melhor filme de Tim Burton nas bilheteiras – em todo o mundo arrecadou perto de 880 milhões de euros -, foi também um ponto-chave da sua relação com a Disney e da estratégia do próprio estúdio daí em diante. Alice no País das Maravilhas foi o empurrão pela toca do coelho da Disney rumo às versões de acção real dos seus clássicos da animação, em que apostou daí em diante com grande sucesso comercial (Maléfica, Livro da Selva e os futuros Tinkerbell com Reese Witherspoon ou o Dumbo de Tim Burton são alguns exemplos).

Burton trabalha agora em Beetlejuice 2 e A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares (estreia em Portugal a 29 de Setembro), e responde titubeante a uma pergunta sobre a representação de personagens LGBT no universo Disney. Mas Johnny Depp continua a reinar tranquilamente. Reflecte sobre a qualidade das suas próprias respostas, fala baixo, divaga um pouco, mas é assertivo. Se voltasse atrás no tempo diria à sua versão criança que optasse pela “simplicidade” e não empregos em que não pode jantar em paz ou em que se torna alvo de notícias falsas, como respondeu a um jornalista argentino.

O Chapeleiro do novo filme vai mais além da versão com “múltiplas personalidades” do filme de 2010, diz o actor, que termina uma conferência de imprensa que começou com o aviso de que não eram permitidas perguntas sobre a vida pessoal de forma inesperada. Recentemente, Depp e a mulher Amber Heard entraram na Austrália sem as licenças devidas para os seus cães. O caso tornou-se judicial e, como parte do seu desfecho, um vídeo em que Depp usa um tom monocórdico desculpando-se pelo sucedido tornou-se viral. “Queria mesmo pedir desculpas por não ter contrabandeado os meus cães para Inglaterra…”, disse a uma sala que não esperou que acabasse a frase para rir e aplaudir a sua actuação domingueira.

O PÚBLICO viajou a convite da Disney