Paulo Flores: “Angola está outra vez de pernas para o ar”

Gravou Bolo de Aniversário e sopra as primeiras velas este sábado, ao mostrar alguns inéditos num concerto na Casa da Música. O disco sairá em Maio.

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Paulo Flores: dançar para reflectir no futuro NUNO FERREIRA SANTOS

Em 2015, preocupava-o sobretudo a memória. Hoje, vira as atenções para o futuro. Paulo Flores, um dos músicos com maior relevo em Angola, nascido em Luanda, a 2 de Julho de 1972, acaba de gravar um novo disco e tenciona lançá-lo em Maio. Mas este sábado vai mostrar alguns temas inéditos ao vivo, no Porto, na Casa da Música (Sala Suggia, 22h). O disco chama-se Bolo de Aniversário e, dele, Paulo Flores estreará pelo menos três canções: Trabalho, Semba para Luanda e Eu vim fazer um semba.

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Em 2015, preocupava-o sobretudo a memória. Hoje, vira as atenções para o futuro. Paulo Flores, um dos músicos com maior relevo em Angola, nascido em Luanda, a 2 de Julho de 1972, acaba de gravar um novo disco e tenciona lançá-lo em Maio. Mas este sábado vai mostrar alguns temas inéditos ao vivo, no Porto, na Casa da Música (Sala Suggia, 22h). O disco chama-se Bolo de Aniversário e, dele, Paulo Flores estreará pelo menos três canções: Trabalho, Semba para Luanda e Eu vim fazer um semba.

“Este disco acaba por ser um pouco mais temático, no sentido em que fala do que está a acontecer em Luanda nos dias de hoje. Mas é também um disco mais dançante, onde eu voltei a uma receita que fazia no início, com a quizomba, que veio antes do semba, em que as pessoas dançavam as músicas e só depois de dançarem é que começavam a ouvir bem o que eu estava a dizer.”

Esta preocupação, a de vincar uma mensagem, é antiga nas suas canções, algumas das quais se foram tornando verdadeiros hinos numa Angola em mudança. Hoje, preocupa-o mais o futuro. “Nos discos anteriores, sobretudo em O País Que Nasceu Meu Pai, eu estava muito preocupado com o que nós deixávamos como testemunho para as novas gerações, porque sentia que podíamos perder referências e o país ficar desconhecido para nós próprios. Neste momento, como diz essa minha nova canção, Trabalho, o mundo mudou, o kuanza baixou, as pessoas não têm emprego, nem preparação para conseguir emprego, e Angola está outra vez de pernas para o ar. Como aliás era o meu medo, pela falta de todas essas referências na educação, na preparação das pessoas.”

E o que seria importante fazer, neste cenário? Como músico e como cidadão, Paulo Flores tem algumas sugestões. “Essencialmente, que as pessoas deixem de pensar tanto nelas próprias e principalmente que o governo, as instituições, comecem a trabalhar com mais substância, a pensar de facto no que o povo precisa, como a saúde e a educação, que são as duas coisas que mais me preocupam por lá. Enquanto tivermos um povo tão afastado daquilo que se passa no mundo e no próprio país, tão distanciado do que é de facto a realidade, vivendo a maior parte da população apenas numa sobrevivência quase sem dignidade, acho que o futuro se apresenta triste e complicado.”

O novo disco, tal como o anterior, não é extenso Tem 12 canções. E a que dá nome ao disco (Bolo de aniversário), diz Paulo Flores, “é completamente diferente de todas as outras, em termos de género, é um pouco mais electrónica, e fala desse direito que nós todos devemos ter, de poder celebrar mais um ano. E fala também de várias peripécias que se passam na vida dos personagens da canção, em Luanda”. 

Dançar para reflectir, é a proposta dele, hoje. Em Luanda, mas também na Casa da Música.