Leonor Teles: “Se vamos falar de coisas sérias, porque não de um modo divertido?”

A jovem realizadora portuguesa confessa que nem a excelente recepção que Balada de um Batráquio teve no Festival de Berlim a faria esperar este resultado.

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Foi dessa ideia de “partir os sapos” - entendida como o quebrar de um tabu xenófobo – que Leonor Teles construiu todo o filme

Leonor Teles está genuinamente surpreendida pela sua vitória na competição de curtas de Berlim. Mesmo ao telefone com o PÚBLICO, acabada de saír da curtíssima conferência de imprensa e pelo meio do turbilhão de felicitações habitual nestas ocasiões, confessa que nem a excelente recepção que Balada de um Batráquio teve no festival a faria esperar este resultado.

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Leonor Teles está genuinamente surpreendida pela sua vitória na competição de curtas de Berlim. Mesmo ao telefone com o PÚBLICO, acabada de saír da curtíssima conferência de imprensa e pelo meio do turbilhão de felicitações habitual nestas ocasiões, confessa que nem a excelente recepção que Balada de um Batráquio teve no festival a faria esperar este resultado.

“Não, não, é mesmo completamente inesperado. Porque para mim este filme é uma parvoíce, é um filme com uma forma tosca, que tem um só objectivo: partir sapos. Ninguém me disse nada, estou eu ali sentada e de repente dizem o meu nome, e eu a pensar, não, isto não pode ser...”

É mesmo por isso que Balada de um Batráquio não é parvo nem tosco. Filha de pai cigano, a realizadora tem um especial interesse pela relação ainda muito tensa entre a etnia cigana e a sociedade – o filme debruça-se sobre a superstição de colocar sapos de louça à porta das lojas para impedir a entrada de ciganos, como maneira de lhes impedir o acesso a uma “vida normal”, e assume uma dimensão de farsa quase burlesca, com a própria equipa do filme a entrar em lojas com sapos na montra para os partir. Foi dessa ideia de “partir os sapos” - entendida como o quebrar de um tabu xenófobo – que Leonor Teles construiu todo o filme.

“O filme é bastante redondo,” explica, “foi bastante pensado e estruturado desde o início. Tivemos que pensar como fazer um filme em que se chegasse a esse pormenor de partir sapos. Mas era importante que o filme não fosse apenas um diagnóstico do problema mas sim também um pouco a sua resolução. E se vamos falar de coisas sérias, porque não fazê-lo de modo divertido?”

Filme que “não pretende ser mais do que aquilo que é”, feito de modo instintivo, Balada de um Batráquio já ultrapassou todas as expectativas que a sua realizadora tinha, e antes ainda do prémio interessara produtores estrangeiros em participar no próximo projecto, Terra Franca. Berlim já abrira portas a Leonor Teles, o Urso de Ouro das Curtas pode certamente abrir mais? “Espero que sim!”, diz antes de desligar.