Refugiados sírios voltam a receber promessa de milhões em ajuda

Doadores querem que países de acolhimento garantam acesso dos sírios à educação e ao mercado de trabalho.

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Alemanha e Reino Unido duplicaram montantes atribuídos à ajuda aos refugiados Stefan Rousseau/Reuters

Reunidos pela quarta vez, desta vez em Londres, dezenas de países comprometeram-se a doar quantias recorde para ajudar os milhões de sírios fugidos da guerra. Apostados em reduzir o número dos que chegam à Europa, os doadores querem que os países vizinhos da Síria garantam educação e trabalho para os refugiados, mesmo que muito do dinheiro prometido continue a não chegar.

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Reunidos pela quarta vez, desta vez em Londres, dezenas de países comprometeram-se a doar quantias recorde para ajudar os milhões de sírios fugidos da guerra. Apostados em reduzir o número dos que chegam à Europa, os doadores querem que os países vizinhos da Síria garantam educação e trabalho para os refugiados, mesmo que muito do dinheiro prometido continue a não chegar.

“Podemos contribuir para alimentar a esperança que é necessária para impedir que as pessoas pensem que não têm outra opção a não ser arriscar a vida numa viagem perigosa para a Europa”, disse o primeiro-ministro britânico, um dos organizadores da conferência de doadores, ao anunciar que o Reino Unido duplicará, para três mil milhões de euros, o montante de ajuda prevista para os próximos cinco anos, dos quais mais de 670 milhões só em 2016. Promessas que rapidamente se foram dilatando: a União Europeia anunciou outros três mil milhões só este ano, a Alemanha desbloqueou 2300 milhões para os próximos três, a Noruega ofereceu mais de 1500 milhões até 2018, os Estados Unidos – o maior contribuinte das operações das Nações Unidas – anunciaram um reforço de 890 milhões de dólares (812 milhões de euros). Portugal comprometeu-se a avançar com 25 milhões de euros ao longo dos próximos dois anos.

Ainda antes de começar, a conferência ficou ensombrada pela suspensão das negociações entre o regime e a oposição, na mesma altura em que o Exército sírio anunciou avanços sobre as zonas controladas pelos rebeldes em Alepo, mostrando que a guerra, prestes a completar cinco anos, promete arrastar-se, eternizando o calvário de quem vive cercado pelos combates ou vive com muito pouco nos países vizinhos.

A ONU, que em 2015 foi obrigada a reduzir os seus programas de ajuda depois de ter recebido menos de metade do montante que precisava para acudir aos sírios dentro e fora do país, pediu para este ano perto de oito mil milhões de dólares (7200 milhões de euros), a que se somam mais 1200 milhões necessários para financiar os planos de resposta dos três países que, no seu conjunto, acolhem mais de 80% dos refugiados sírios. “Olhando o meu povo nos olhos (…) posso dizer-vos que chegámos ao nosso limite”, avisou o rei Abdullah da Jordânia, antes de o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, ter dito que há mais “60 a 70 mil sírios” a caminho do seu país, em fuga dos combates a norte de Alepo.

Sem perspectivas de paz a médio prazo, há um consenso sobre a necessidade de canalizar uma fatia maior da ajuda internacional para melhorar as condições de vida dos refugiados nos países da região. Seja garantindo que há lugar para as mais de 700 mil crianças sírias que, segundo cálculos da Unicef, não vão à escola nos países de acolhimento, seja investindo nas economias locais para criar empregos – Londres e Berlim propuseram a criação de “zonas económicas especiais” na Jordânia, nas quais as empresas beneficiariam de taxas reduzidas nas suas exportações para a Europa, em troca da garantia de que 70% dos empregos seriam atribuídos a sírios.

Mas um grupo de 90 organizações humanitárias, que se reuniu em Londres na véspera da conferência, sublinhou “que não basta simplesmente atirar dinheiro” para a região, insistindo que nenhum plano funcionará enquanto países como o Líbano ou a Turquia impedirem os refugiados de obterem vistos de trabalho ou levantarem entraves à inscrição das crianças sírias nas escolas.

Em Londres houve também quem lamentasse que a urgência dos europeus em travar o fluxo de refugiados esteja a colocar em segundo plano as necessidades, ainda mais urgentes, dos seis milhões de deslocados dentro da Síria. “Ver pessoas forçadas a comer erva e folhas, a matar animais abandonados para sobreviver é algo que deveria chocar a consciência de todas as pessoas civilizadas”, admitiu o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, no mesmo dia em que a Cruz Vermelha foi autorizada, após duas semanas de recusas, a enviar um terceiro carregamento de ajuda para Madaya, cidade cercada pelo Exército sírio onde dezenas de pessoas morreram à fome nos últimos dois meses.