O último ano do PS?

António Costa não jogou simplesmente o seu futuro político, jogou também o futuro do PS e, muito provavelmente, da democracia.

O PS foi fundado em 1973 com a Maçonaria e uns restos do velho e quase extinto partido de Afonso Costa. O programa era uma mistura do programa do socialismo europeu com algumas reivindicações primárias, que a existência da Ditadura impunha. Nunca inspirou qualquer entusiasmo ou confiança no clima de radicalismo que se vivia antes do “25 de Abril”. Só se tornou uma força política com a resistência à tentativa de Álvaro Cunhal e alguns militares de estabelecer em Portugal uma espécie atenuada de “democracia popular”. Internamente, como se viu logo nos primeiros governos, nunca teve consistência ou propósito. Entre 1975 e 1980, juntou alguns grupos da esquerda moderada, que desde o princípio se começaram a guerrear com ardor.  

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O PS foi fundado em 1973 com a Maçonaria e uns restos do velho e quase extinto partido de Afonso Costa. O programa era uma mistura do programa do socialismo europeu com algumas reivindicações primárias, que a existência da Ditadura impunha. Nunca inspirou qualquer entusiasmo ou confiança no clima de radicalismo que se vivia antes do “25 de Abril”. Só se tornou uma força política com a resistência à tentativa de Álvaro Cunhal e alguns militares de estabelecer em Portugal uma espécie atenuada de “democracia popular”. Internamente, como se viu logo nos primeiros governos, nunca teve consistência ou propósito. Entre 1975 e 1980, juntou alguns grupos da esquerda moderada, que desde o princípio se começaram a guerrear com ardor.  

Quando Soares passou para Belém, ficaram duas dúzias de quadros, que não valiam muito. A maioria acabou por se instalar na máquina do partido, no Estado ou nos negócios. Como seria de esperar, as divisões continuaram. Com ou sem a intervenção de Soares (que de Belém comandava as tropas), o PS mudou de Secretário-Geral sem razão, nem objectivo. Entretanto crescia o vácuo ideológico. Ninguém sabia ao certo o que representava e para onde ia aquela máquina eleitoral, barulhenta mas desnorteada. E cada um dos sucessivos “chefes” acabava sempre bloqueado pelas tribos da casa. Constâncio, Sampaio, Ferro e por aí fora. No fim, só Sócrates (com a generosa ajuda de Santana Lopes) conseguiu impor um módico de autoridade ao vespeiro do Rato. Infelizmente, Sócrates não tinha nada na cabeça e o PS não melhorou.

Depois da crise ou da “austeridade”, como preferirem, António Costa aproveitou a moleza substancial do suposto socialismo português para se aliar ao PC e ao Bloco, que eram inimigos tradicionais do partido: o PC gostaria de o liquidar e o Bloco de o substituir. Por enquanto, tanto um como o outro, por medo da direita, ainda se esforçam por segurar as coisas. Mas tudo depende do sucesso ou fracasso da política económica do governo Costa. Se ela não aliviar visível e seguramente as pessoas, a frente que sustenta o PS cairá e o PS ele próprio acabará por desaparecer como instituição indispensável ao “funcionamento regular” do regime. António Costa não jogou simplesmente o seu futuro político, jogou também o futuro do PS e, muito provavelmente, da democracia.