Expulsar a Grécia do euro e de Schengen

A Europa está completamente à deriva e não sabe (ou não quer) lidar com a crise dos refugiados.

Há um ano, o Syriza chegava ao poder na Grécia e desafiava a política de austeridade da troika. Depois de um longo braço-de-ferro com a Alemanha, que durou mais de seis meses, o ministro das Finanças alemão achou que a melhor forma de resolver o problema seria convidar a Grécia a sair temporariamente da zona euro. Em troca, prometia encetar o processo de reestruturação da dívida do país. O “convite” acabou por ser travado por Angela Merkel, que já na altura teve visão suficiente para perceber que a importância dos gregos para a integridade do projecto europeu não se esgotava na folha de Excel de Schäuble. Já então a Europa estava a braços com um gravíssimo problema de refugiados e a chanceler percebeu que a Grécia, como maior porta de entrada, teria um papel incontornável na forma como a Europa iria ter de lidar com a maior vaga de refugiados desde a II Guerra Mundial.

Com a entrada de mais de um milhão de refugiados no continente em 2015, o tema acabou por se sobrepor ao da crise do euro e os sucessivos naufrágios e mortes no Mediterrâneo transformaram-no numa emergência humanitária. No entanto, e depois de várias cimeiras para tentar encontrar uma política comum sobre o tema, os 28 continuam sem se entender e entraram num perigoso jogo do passa-culpas. E nem os 3 mil milhões prometidos à Turquia tiveram o efeito desejado, nem a chegada do Inverno inibiu milhares de continuarem a arriscar a travessia. Segundo a Reuters, 35 mil refugiados já fizeram a travessia por mar entre a Turquia e a Grécia em Janeiro, 20 vezes mais do que em Janeiro de 2015.

A situação dos refugiados já levou países como a Áustria, Alemanha e Suécia a introduzirem restrições nas fronteiras e limitações ao acordo de Schengen, que, a par do euro, é o grande pilar do projecto europeu. Não foi ao acaso o alerta de Juncker: “Hoje Schengen está em risco. Amanhã, pode ser a existência do euro. A União Europeia está ameaçada nas suas bases.” Perante o vazio de ideias para uma nova cimeira de Fevereiro sobre o tema, alguns países, como a Áustria, começam à procura de soluções onde elas não existem. A ministra do Interior austríaca, com o apoio da Suécia e aparentemente da Alemanha, já veio ameaçar a Grécia, dizendo que as fronteiras de Schengen podem ser deslocadas em direcção à Europa central se os gregos se mostrarem incapazes de controlar as suas fronteiras. É a mesma lógica disparatada adoptada aquando da crise do euro; se a Grécia está em dificuldades com o euro, que saia do euro; se está em dificuldades com Schengen, que saia de Schengen. Os gregos contrapõem, dizendo que a Europa está a falhar na ajuda prometida, desde berços para os centros de acolhimento, passando por máquinas para recolha de impressões digitais, até à escassez de funcionários da Frontex no país. É neste clima que se prepara mais uma grande cimeira para debater o tema dos refugiados.

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Há um ano, o Syriza chegava ao poder na Grécia e desafiava a política de austeridade da troika. Depois de um longo braço-de-ferro com a Alemanha, que durou mais de seis meses, o ministro das Finanças alemão achou que a melhor forma de resolver o problema seria convidar a Grécia a sair temporariamente da zona euro. Em troca, prometia encetar o processo de reestruturação da dívida do país. O “convite” acabou por ser travado por Angela Merkel, que já na altura teve visão suficiente para perceber que a importância dos gregos para a integridade do projecto europeu não se esgotava na folha de Excel de Schäuble. Já então a Europa estava a braços com um gravíssimo problema de refugiados e a chanceler percebeu que a Grécia, como maior porta de entrada, teria um papel incontornável na forma como a Europa iria ter de lidar com a maior vaga de refugiados desde a II Guerra Mundial.

Com a entrada de mais de um milhão de refugiados no continente em 2015, o tema acabou por se sobrepor ao da crise do euro e os sucessivos naufrágios e mortes no Mediterrâneo transformaram-no numa emergência humanitária. No entanto, e depois de várias cimeiras para tentar encontrar uma política comum sobre o tema, os 28 continuam sem se entender e entraram num perigoso jogo do passa-culpas. E nem os 3 mil milhões prometidos à Turquia tiveram o efeito desejado, nem a chegada do Inverno inibiu milhares de continuarem a arriscar a travessia. Segundo a Reuters, 35 mil refugiados já fizeram a travessia por mar entre a Turquia e a Grécia em Janeiro, 20 vezes mais do que em Janeiro de 2015.

A situação dos refugiados já levou países como a Áustria, Alemanha e Suécia a introduzirem restrições nas fronteiras e limitações ao acordo de Schengen, que, a par do euro, é o grande pilar do projecto europeu. Não foi ao acaso o alerta de Juncker: “Hoje Schengen está em risco. Amanhã, pode ser a existência do euro. A União Europeia está ameaçada nas suas bases.” Perante o vazio de ideias para uma nova cimeira de Fevereiro sobre o tema, alguns países, como a Áustria, começam à procura de soluções onde elas não existem. A ministra do Interior austríaca, com o apoio da Suécia e aparentemente da Alemanha, já veio ameaçar a Grécia, dizendo que as fronteiras de Schengen podem ser deslocadas em direcção à Europa central se os gregos se mostrarem incapazes de controlar as suas fronteiras. É a mesma lógica disparatada adoptada aquando da crise do euro; se a Grécia está em dificuldades com o euro, que saia do euro; se está em dificuldades com Schengen, que saia de Schengen. Os gregos contrapõem, dizendo que a Europa está a falhar na ajuda prometida, desde berços para os centros de acolhimento, passando por máquinas para recolha de impressões digitais, até à escassez de funcionários da Frontex no país. É neste clima que se prepara mais uma grande cimeira para debater o tema dos refugiados.