Nóvoa cantou com mineiros, deu toques de bola e citou a Constituição

Os apoios da estrutura do PS são cada vez mais visíveis, mas o candidato apresenta-se como o independente que quer ser o “Presidente cidadão”.

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Catarina Gonçalves está na Praça Gil Eanes, em Lagos, com duas amigas. Fato de treino, bola de futebol debaixo do braço, olha para a base da estátua de D. Sebastião, feita por José Cutileiro, e reconhece Sampaio da Nóvoa.

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Catarina Gonçalves está na Praça Gil Eanes, em Lagos, com duas amigas. Fato de treino, bola de futebol debaixo do braço, olha para a base da estátua de D. Sebastião, feita por José Cutileiro, e reconhece Sampaio da Nóvoa.

O candidato está a falar, num púlpito improvisado, ao lado de Joaquina Matos, a autarca do PS, que desejou esta candidatura desde o célebre discurso de 10 de Junho de 2012. Na altura pensou: “Este é o homem de que nós precisamos nesta altura.” Catarina ouve os discursos e comenta com as amigas: “Vi um vídeo do Marcelo a dar uns toques. Não é mau.” Assim que Nóvoa acaba de falar, Catarina vai atrás dele. O candidato, de fato azul escuro, cumprimenta dezenas de apoiantes algarvios. E Catarina continua à espera de vez, com a bola debaixo do braço. “Vou desafiá-lo”, diz às amigas. Elas riem. “És maluca.”

Quando chega o momento, Nóvoa hesita. Já tem um vídeo a circular em que dá uns toques numa bola. Mas Catarina insiste, e até pede aos apoiantes do candidato para abrirem um espaço. Nóvoa pergunta: “De joelho?” Catarina aceita, depois de ela própria mostrar os seus dotes com o peito do pé. Cinco, seis toques de joelhos, do candidato, finalizados com um passe de cabeça, a gravata destoa, mas Catarina rende-se. “Gostei da prestação dele.” Da prestação futebolística?, perguntamos-lhe. “É um forte candidato. Tenho visto as notícias e os debates”, diz a jovem jogadora da equipa de futebol do Silves. “Fui chamada à selecção do Algarve”, acrescenta, quase por acaso.

Numa campanha em que os jovens são a imensa minoria, os toques na bola destoam. Mas a campanha anima-se. E Nóvoa mostra-se mais confiante. Até na forma como se aproxima das pessoas, nas ruas e nos cafés. Essa é uma mudança. Há pouco tempo, Nóvoa evitava aproximar-se. Agora muda de direcção para ir cumprimentar toda a gente.

O resultado: um dia de campanha, o quarto, em que o candidato cantou o hino dos mineiros, com o Grupo Coral do Sindicato de Aljustrel, capacete na cabeça e tudo, deu toques com Catarina no centro de Lagos e andou a visitar campos agrícolas numa carrinha de caixa aberta.  E ainda citou o artigo primeiro da Constituição que, garante, é o seu “programa”.

Depois de três dias no interior, a falar da urgência do combate à “desigualdade” imposta pela distância dos centros urbanos, Sampaio da Nóvoa chegou ao litoral. O PS não lhe está a negar apoios. Os autarcas de Aljezur, Nelson Brito, e de Lagos, Joaquina Matos, acompanharam-no ao longo do dia.

Na véspera, à noite, Capoulas Santos, ministro da Agricultura, e presidente da federação do PS de Évora, já lhe tinha garantido o apoio da “esmagadora maioria dos militantes do PS de Évora, incluindo todos os presidentes de câmara eleitos” pelo partido no distrito, num concorrido comício - o primeiro com esse nome, no Teatro Garcia de Resende.

Nada que mude o discurso do candidato, e a iconografia da campanha. As bandeiras que se agitam nos comícios são as nacionais. E o tema forte é o da necessidade de eleger um “Presidente cidadão”, que pela primeira vez nos últimos trinta anos não seja um destacado ex-dirigente partidário.

Em Portimão, onde voltou a andar pela rua, no largo da sede do Portimonense Sport Clube, Nóvoa garantiu que se candidata “sem dependência de interesses de espécie alguma”. O candidato fez esta intervenção na Casa Teixeira Gomes, o portimonense que presidiu à República, até se desiludir e renunciar ao mandato, em 1925, pouco mais de dois anos depois de ter tomado posse.

Por isso, o tema foi, desta vez, menos eleitoral e mais “republicano”. Nóvoa falou do sonho de “mobilidade social” que a República precisa de manter: “Que todos têm direito a uma oportunidade” e “quem nasce pobre não tem de morrer pobre”.

Garantindo que o apoio que sente na rua o motiva, o candidato exortou a sala, cheia de apoiantes, a cumprir a “obrigação de participar civicamente”. No fim ouviu o slogan “Nóvoa a Presidente”.

À noite, antes de voltar a uma longa viagem pela estrada, até Coruche, Nóvoa participou num jantar com 386 apoiantes em Faro.