Krugman aconselha cuidado a Portugal na subida do salário mínimo

O economista norte-americano disse que já é tarde para voltar atrás, pelo que o melhor é “reparar o euro”. A Portugal, neste cenário, sugere cuidado na aplicação de medidas como o aumento do salário mínimo.

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Krugman esteve esta segunda-feira em Lisboa numa homenagem a Silva Lopes Miguel Manso

Uma vez que não vai nem deve sair do euro, Portugal deve ser cuidadoso nas políticas económicas que aplica, como por exemplo o aumento do salário mínimo, num cenário em que o projecto da moeda única continua a apresentar falhas graves que precisam de ser resolvidas ao nível da zona euro. A mensagem foi deixada esta segunda-feira por Paul Krugman na conferência de homenagem a José da Silva Lopes organizada em Lisboa pelo Banco de Portugal.

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Uma vez que não vai nem deve sair do euro, Portugal deve ser cuidadoso nas políticas económicas que aplica, como por exemplo o aumento do salário mínimo, num cenário em que o projecto da moeda única continua a apresentar falhas graves que precisam de ser resolvidas ao nível da zona euro. A mensagem foi deixada esta segunda-feira por Paul Krugman na conferência de homenagem a José da Silva Lopes organizada em Lisboa pelo Banco de Portugal.

O economista norte-americano, que nos anos setenta do século passado esteve com outros alunos do MIT em Portugal a convite do antigo governador do Banco de Portugal, lembrou uma frase que Silva Lopes usava com frequência quando ouvia recomendações de política económica que não considerava viáveis politicamente: “É uma boa ideia, mas isso seria impossível”.

O mesmo tipo de resposta dá agora Krugman quando colocado perante a hipótese de alguns países da zona euro poderem ter vantagens em sair do euro. “Imaginemos que decidimos que vários países deveriam sair do euro, o que é que fazíamos com os bancos, com os depósitos bancários? As pessoas odeiam a austeridade, mas adoram o euro e nunca querem ver a sua moeda a desvalorizar”, afirma o prémio Nobel da Economia.

Por isso, apesar de considerar que “o ideal seria não se ter tomado a decisão de entrar na moeda única”, Krugman considera que, em geral e especificamente para o caso português, “não é produtivo” estar a pensar numa saída, porque, “como diria Silva Lopes, isso é impossível”.

O economista prefere pensar antes “no que pode ser feito que não é impossível” e que pode servir para “reparar o euro”.

Paul Krugman deixou na sua intervenção na conferência três principais sugestões. A primeira é que a zona euro deve avançar definitivamente para “uma verdadeira união bancária”. Recentemente, a zona euro avançou para a criação de um supervisor bancário comum e para a aplicação de regras de resolução únicas. No entanto, ainda não existe um fundo comum para a resolução de bancos ou um seguro de depósito único. Para Krugman, avançar rapidamente nestas áreas é “algo que é óbvio que se deve fazer”. ”Fazer com que salvar os bancos seja uma responsabilidade nacional é uma loucura”, afirma.

A segunda sugestão do prémio Nobel para a zona euro é uma maior integração orçamental. No entanto, Paul Krugman fez questão de esclarecer que quando fala de integração orçamental não é com o mesmo sentido de muito políticos europeus, que pedem o cumprimento dos limites do défice por todos os países “o que que às vezes até tem efeitos negativos”. O que o economista quer dizer com integração é antes a situação em que as pessoas dos vários países pagam um imposto comum, que depois financia programas de despesa comuns. Por exemplo, a criação de uma rede de segurança europeia a nível social.

Em terceiro lugar, Krugman considera essencial a aplicação de uma política monetária na zona euro que faça com que a inflação não seja tão baixa, porque isso tornaria os ganhos de competitividade menos difíceis de alcançar.

Ao centrar-se nestas soluções a nível europeu numa tentativa de “reparar o euro”, Paul Krugman deixou muito poucas soluções concretas para Portugal.

O economista diz que o país vive “uma situação muito difícil”, com “desemprego muito alto e que ainda seria maior se não fossem as pessoas que emigraram”, para além de um ritmo de crescimento baixo.

Ainda assim, disse, Portugal está longe do caso extremo que é a Grécia e, por isso, uma saída do país do euro não é sugerida. “Para a Europa, é muito melhor reparar o euro, do que deixar um país entrar numa situação de desespero, em que acabe por sair”, disse.

Isso significa que, entretanto, Portugal tem de adaptar as suas políticas económicas à realidade de se manter numa união monetária, sem possibilidade de desvalorização da divisa como aconteceu nos anos 70.

Questionado sobre políticas como a subida do salário mínimo em Portugal, Paul Krugman começou por lembrar que é “um grande apoiante da subida do salário mínimo” no seu país, mas assinalou que os EUA têm uma moeda própria. Para Portugal, adoptar a mesma política “é problemático”. “É preciso ter cuidado. Uma vez que não se vai sair do euro, é preciso ter cuidado com as políticas que são seguidas”, defendeu.