Rússia contabiliza 60% dos novos casos de VIH na Europa

A OMS alerta para a necessidade de apoio médico aos refugiados que chegam ao continente.

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O projecto da ONU para travar o vírus do VIH até 2030 começou a dar resultados. Michel Sidibe apresentou em Genebra o novo relatório do projecto Denis Balibouse/REUTERS

De acordo com um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Centro Europeu para Prevenção e Controlo de Doenças (EPCD), em 2014 foram registados 142 mil novos casos de infecção do vírus da sida no continente europeu. A maioria dos casos foi diagnosticada na Rússia.  
 
O Gabinete Regional da OMS na Europa revela que, desde que os dados começaram a ser monitorizados na década de 1980, este é o maior número de novos diagnósticos do vírus da imunodeficiência humana (VIH) detectados no espaço de um ano no continente.
 
Estatísticas recentes indicam que o vírus tem maior prevalência a leste do continente europeu, onde o número de casos tem aumentado ao longo da última década. A Rússia, com mais de um milhão de pessoas contagiadas, concentra 60% dos novos diagnósticos.
 
Com uma população de dois milhões de toxicodependentes que injectam droga, o número de infectados com VIH chegou aos 30%. A sida afecta essencialmente camadas mais jovens, incluindo os que vivem da prostituição, que não têm vigilância médica adequada e passam pelos testes demasiado tarde.
 
“Os últimos cinco anos de políticas conservadoras do Kremlin levaram o número de infectados na Rússia ao dobro”, revela Vadim Pokrovski, chefe do centro público para a sida, em declarações à AFP. O especialista prevê que o número ascenda aos três milhões nos próximos anos. “Isto significa que as medidas tomadas são ineficazes. Mesmo que o Governo mude radicalmente de estratégia, a taxa de VIH continuará a aumentar por inércia.”
 
Os fundos públicos para centros de desintoxicação foram limitados no país este ano, e, numa sociedade maioritariamente ortodoxa, a educação sexual está fora do cenário.
“Na Alemanha ensinam os jovens a usar preservativos”, refere Pokrovski. Um dos países com a taxa mais baixa de VIH no mundo, a Alemanha legalizou a prostituição e tal como a maioria dos países europeus dispõe de programas públicos para a reabilitação de toxicodependentes.
 
Os 28 países da União Europeia, em conjunto com Islândia, Liechtenstein e Noruega somam um valor mais baixo de infecções no relatório – apenas 21%. A EPCD adianta que na Europa Ocidental o número de infecções tende a diminuir devido aos progressos que os Estados têm feito junto da população no sentido de prevenir a contaminação.
 
De acordo com os dados do relatório, os imigrantes representam um terço dos infectados na Europa. Ao longo da última década, o número de infecções entre a população estrangeira tem diminuído significativamente, e a OMS adianta que, na maioria destes diagnósticos, o vírus foi contraído já na Europa.
 
“Refugiados e migrantes são uma prioridade na prevenção do VIH. Os conflitos não devem afectar o acesso de portadores do vírus a cuidados médicos”, adianta Zsusanna Jakab, directora do Gabinete Regional da OMS na Europa, num comunicado divulgado pela EPDC.
 
“A OMS apela a todos os países europeus para oferecerem cuidados de prevenção, testes e tratamentos a todos os refugiados e migrantes, independentemente do seu estatuto legal.” Jakab salientou que o risco de infecção é maior quando os migrantes se tornam vítimas de exclusão social e deixam de procurar ajuda por receio de serem estigmatizados.
 
Os principais modos de transmissão do vírus variam conforme o país, mas o relatório revela que a transmissão sexual do vírus continua a ser a principal responsável pelo aumento dos casos na Europa de leste, e que a transmissão por via intravenosa permanece substancial. Quase metade dos casos são diagnosticados tardiamente.
 
A menos de uma semana do Dia Mundial da Sida, celebrado a 1 de Dezembro, a Organização das Nações Unidas revela o sucesso da estratégia para erradicar o vírus nos próximos 15 anos. A meta, definida para no próximo ano levar o tratamento a 15 milhões das cerca de 36 milhões pessoas portadoras do vírus, foi alcançada em Julho deste ano, altura em que 15,6 milhões de infectados estavam em tratamento.
 
“A cada cinco anos temos duplicado o número de pessoas em tratamento”, referiu o director executivo da ONUSIDA, Michel Sidibe, na conferência de imprensa desta terça-feira em Genebra. “Precisamos de o fazer uma vez mais para travar a epidemia da sida e impedi-la de se repercutir.”
 
De acordo com a ONUSIDA, o número de infecções reduziu-se em 35% e as mortes relacionadas com o VIH baixaram 41% desde 2000, altura em que foram definidos os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio da ONU. O esforço dos países vai ao encontro do projecto 90-90-90 da ONU, que se propõe a que em 2020 90% da população infectada conheça a sua condição, 90% dessas pessoas recebam tratamento, e 90% tenham reduzido o risco de contágio. 
 

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De acordo com um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Centro Europeu para Prevenção e Controlo de Doenças (EPCD), em 2014 foram registados 142 mil novos casos de infecção do vírus da sida no continente europeu. A maioria dos casos foi diagnosticada na Rússia.  
 
O Gabinete Regional da OMS na Europa revela que, desde que os dados começaram a ser monitorizados na década de 1980, este é o maior número de novos diagnósticos do vírus da imunodeficiência humana (VIH) detectados no espaço de um ano no continente.
 
Estatísticas recentes indicam que o vírus tem maior prevalência a leste do continente europeu, onde o número de casos tem aumentado ao longo da última década. A Rússia, com mais de um milhão de pessoas contagiadas, concentra 60% dos novos diagnósticos.
 
Com uma população de dois milhões de toxicodependentes que injectam droga, o número de infectados com VIH chegou aos 30%. A sida afecta essencialmente camadas mais jovens, incluindo os que vivem da prostituição, que não têm vigilância médica adequada e passam pelos testes demasiado tarde.
 
“Os últimos cinco anos de políticas conservadoras do Kremlin levaram o número de infectados na Rússia ao dobro”, revela Vadim Pokrovski, chefe do centro público para a sida, em declarações à AFP. O especialista prevê que o número ascenda aos três milhões nos próximos anos. “Isto significa que as medidas tomadas são ineficazes. Mesmo que o Governo mude radicalmente de estratégia, a taxa de VIH continuará a aumentar por inércia.”
 
Os fundos públicos para centros de desintoxicação foram limitados no país este ano, e, numa sociedade maioritariamente ortodoxa, a educação sexual está fora do cenário.
“Na Alemanha ensinam os jovens a usar preservativos”, refere Pokrovski. Um dos países com a taxa mais baixa de VIH no mundo, a Alemanha legalizou a prostituição e tal como a maioria dos países europeus dispõe de programas públicos para a reabilitação de toxicodependentes.
 
Os 28 países da União Europeia, em conjunto com Islândia, Liechtenstein e Noruega somam um valor mais baixo de infecções no relatório – apenas 21%. A EPCD adianta que na Europa Ocidental o número de infecções tende a diminuir devido aos progressos que os Estados têm feito junto da população no sentido de prevenir a contaminação.
 
De acordo com os dados do relatório, os imigrantes representam um terço dos infectados na Europa. Ao longo da última década, o número de infecções entre a população estrangeira tem diminuído significativamente, e a OMS adianta que, na maioria destes diagnósticos, o vírus foi contraído já na Europa.
 
“Refugiados e migrantes são uma prioridade na prevenção do VIH. Os conflitos não devem afectar o acesso de portadores do vírus a cuidados médicos”, adianta Zsusanna Jakab, directora do Gabinete Regional da OMS na Europa, num comunicado divulgado pela EPDC.
 
“A OMS apela a todos os países europeus para oferecerem cuidados de prevenção, testes e tratamentos a todos os refugiados e migrantes, independentemente do seu estatuto legal.” Jakab salientou que o risco de infecção é maior quando os migrantes se tornam vítimas de exclusão social e deixam de procurar ajuda por receio de serem estigmatizados.
 
Os principais modos de transmissão do vírus variam conforme o país, mas o relatório revela que a transmissão sexual do vírus continua a ser a principal responsável pelo aumento dos casos na Europa de leste, e que a transmissão por via intravenosa permanece substancial. Quase metade dos casos são diagnosticados tardiamente.
 
A menos de uma semana do Dia Mundial da Sida, celebrado a 1 de Dezembro, a Organização das Nações Unidas revela o sucesso da estratégia para erradicar o vírus nos próximos 15 anos. A meta, definida para no próximo ano levar o tratamento a 15 milhões das cerca de 36 milhões pessoas portadoras do vírus, foi alcançada em Julho deste ano, altura em que 15,6 milhões de infectados estavam em tratamento.
 
“A cada cinco anos temos duplicado o número de pessoas em tratamento”, referiu o director executivo da ONUSIDA, Michel Sidibe, na conferência de imprensa desta terça-feira em Genebra. “Precisamos de o fazer uma vez mais para travar a epidemia da sida e impedi-la de se repercutir.”
 
De acordo com a ONUSIDA, o número de infecções reduziu-se em 35% e as mortes relacionadas com o VIH baixaram 41% desde 2000, altura em que foram definidos os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio da ONU. O esforço dos países vai ao encontro do projecto 90-90-90 da ONU, que se propõe a que em 2020 90% da população infectada conheça a sua condição, 90% dessas pessoas recebam tratamento, e 90% tenham reduzido o risco de contágio.