Refugiados barrados na Macedónia cosem os lábios e pedem: "Abram a fronteira"

Política de selecção das nacionalidades adoptada por países dos Balcãs é criticada pela ONU. À Grécia deixaram de chegar milhares de pessoas, não se sabe bem porquê.

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Iranianos entraram em greve de fome e coseram os lábios ROBERT ATANASOVSKI/AFP

Está frio, até nevou, mas aqueles homens estão de tronco nu e coseram os lábios com fio de nylon. Estão em greve de fome. Um escreveu “Iran” na testa. Estão sentados em cima dos carris da linha de comboio na fronteira da Grécia com a Macedónia, impedindo o tráfego ferroviário entre os dois países. “Open the border”, diz um cartaz improvisado com um pedaço de cartão.

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Está frio, até nevou, mas aqueles homens estão de tronco nu e coseram os lábios com fio de nylon. Estão em greve de fome. Um escreveu “Iran” na testa. Estão sentados em cima dos carris da linha de comboio na fronteira da Grécia com a Macedónia, impedindo o tráfego ferroviário entre os dois países. “Open the border”, diz um cartaz improvisado com um pedaço de cartão.

São iranianos, fazem parte dos cerca de mil refugiados que se acumularam nos Balcãs, desde que vários países da região decidiram que só deixariam transitar nas fronteiras como refugiados pessoas vindas de países que estivessem em conflito. Os critérios variam um pouco de país para país, mas aos sírios todos deixam avançar, aos iraquianos em princípio também.

Afegãos depende da interpretação, mas iranianos, paquistaneses e africanos de várias nações estão a ser barrados – numa violação da lei internacional, afirmam as Nações Unidas. “Toda a gente tem o direito de pedir asilo e de que o seu caso seja ouvido, seja qual for a sua nacionalidade”, sublinhou o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Adrian Edwards.

Um grupo de bangladeshianos chama a atenção para a sua situação: “Disparem contra nós ou salvem-nos. Não podemos voltar ao Bangladesh”, escreveram a vermelho no peito nu. Cerca de 200 pessoas juntaram-se a estes protestos, relata a Reuters. Outros mantêm-se à espera, alguns voltaram para a Grécia, em busca de uma rota alternativa.

A ONU diz não ter informações de que esta nova política de fronteiras tenha sido suscitada pelos atentados de Paris de 13 de Novembro – ou apenas pela falta de soluções europeias para a crise dos refugiados do Médio Oriente. A Suécia anunciou esta terça-feira que a sua lei iria ser adaptada para reduzir o enorme afluxo de refugiados que recebeu este ano. “É preciso aliviar a enorme pressão [sobre o sistema de acolhimento sueco], para que mais pessoas peçam asilo noutros países da UE. A legislação vai ser reduzida ao nível mínimo da União Europeia por um período de três anos”, anunciou o primeiro-ministro, Stefan Löfven.

Não é possível manter a situação actual, afirmou o governante: o país de 9,8 milhões de habitantes já recebeu este ano 80 mil refugiados. À escala à UE, disse, cita-o a AFP, é como se tivesse recebido 25 milhões de pessoas.

Mas, pela primeira vez este ano, a chegada de refugiados às ilhas gregas abrandou, tornou-se desde o fim-de-semana quase um fio de azeite, em vez de uma torrente. Apenas 155 pessoas chegaram no domingo às ilhas e 478 aos portos de Atenas e Kavala, vindos dessas mesmas ilhas, anunciou a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Às praias de Lesbos, somente 24 pessoas tinham chegado até às 15h00. Três dias antes, recorda a AFP, tinham chegado 2500 pessoas. A Itália também não chegam barcos com migrantes há vários dias.

Será uma nova tendência? As organizações humanitárias não arriscam fazer previsões. “Pode ser por causa do tempo.” Há ventos violentos nesta zona do Mediterrâneo. Podem também ser as notícias do bloqueio nas fronteiras dos Balcãs, ou uma pressão extra da Turquia, que está a ser pressionada pela UE para travar a partida de embarcações com refugiados a partir das suas costas, admite a AFP.

Seja o que for, é “um fenómeno significativo”, diz a OIM. Este ano, 858.805 refugiados e migrantes chegaram à Europa através do Mediterrâneo, sobretudo através da Grécia, segundo esta organização. Na viagem, morreram 3548. Apenas 148 foram feitos seguir para outros países da UE: Finlândia, Luxemburgo e Suécia.