Marcar o ponto

Joaquin Phoenix traz algo de novo ao cinema de Woody Allen – pena que o realizador não pareça interessado.

Foto
É como se Allen estivesse disposto a engajar em discussão o melhor cinema americano contemporâneo, ao convocar o actor-fétiche de Paul Thomas Anderson e ao deixá-lo à solta a perturbar a estrutura certinha do seu cinema que se tornou confortável e reconfortante, previsível à distância. E, durante parte significativa de Homem Irracional, até o consegue, mesmo que o dispositivo seja uma variação sobre um dos seus últimos verdadeiramente grandes filmes, Crimes e Escapadelas (1989): o filósofo insatisfeito redescobre a vontade de viver ao decidir agir contra a corrente e cometer um crime moralmente defensável. Mas é falso alarme: de lufada de ar fresco, Homem Irracional tomba no descalabro, tornando-se talvez no mais preguiçoso e desnecessário Allen recente, desperdiçando a premissa elegantemente desenhada num inacreditável chorrilho de passos em falso que destroem completamente o que ficou para trás — para já não falar de um final que quase faz pouco do investimento que o espectador fez no filme. É como se, uma vez intrigado pela presença de Phoenix, o cineasta tivesse decidido que afinal queria era marcar o ponto e fazer mais do mesmo e “sabotasse” o seu próprio filme. De Woody Allen já não esperamos muito, mas não esperávamos certamente este desastre. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

É como se Allen estivesse disposto a engajar em discussão o melhor cinema americano contemporâneo, ao convocar o actor-fétiche de Paul Thomas Anderson e ao deixá-lo à solta a perturbar a estrutura certinha do seu cinema que se tornou confortável e reconfortante, previsível à distância. E, durante parte significativa de Homem Irracional, até o consegue, mesmo que o dispositivo seja uma variação sobre um dos seus últimos verdadeiramente grandes filmes, Crimes e Escapadelas (1989): o filósofo insatisfeito redescobre a vontade de viver ao decidir agir contra a corrente e cometer um crime moralmente defensável. Mas é falso alarme: de lufada de ar fresco, Homem Irracional tomba no descalabro, tornando-se talvez no mais preguiçoso e desnecessário Allen recente, desperdiçando a premissa elegantemente desenhada num inacreditável chorrilho de passos em falso que destroem completamente o que ficou para trás — para já não falar de um final que quase faz pouco do investimento que o espectador fez no filme. É como se, uma vez intrigado pela presença de Phoenix, o cineasta tivesse decidido que afinal queria era marcar o ponto e fazer mais do mesmo e “sabotasse” o seu próprio filme. De Woody Allen já não esperamos muito, mas não esperávamos certamente este desastre. 

 

The partial view '~/Views/Layouts/Amp2020/ARTIGO_CINEMA.cshtml' was not found. The following locations were searched: ~/Views/Layouts/Amp2020/ARTIGO_CINEMA.cshtml
ARTIGO_CINEMA