Governo holandês dá 80 milhões de euros para ajudar o Rijksmuseum na compra de dois Rembrandt

A família de banqueiros Rothschild quer vender as obras por 160 milhões de euros.

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O Rijksmuseum procura agora angariar os restantes 80 milhões para poder ficar com estes retratos DR

Em Março, quando se soube que estes dois retratos de corpo inteiro pintados pelo mestre holandês em 1634 iam ser vendidos, a direcção do Rijksmuseum reagiu prontamente: “Se chegarem ao mercado será muito interessante”. Apenas um problema:  a falta de orçamento para poder adquirir as peças.

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Em Março, quando se soube que estes dois retratos de corpo inteiro pintados pelo mestre holandês em 1634 iam ser vendidos, a direcção do Rijksmuseum reagiu prontamente: “Se chegarem ao mercado será muito interessante”. Apenas um problema:  a falta de orçamento para poder adquirir as peças.

Em causa estão dois retratos do jovem casal Maerten Soolmans, de 21 anos, e Oopjen Coppit, de 23 anos, representantes das elites burguesas de Amesterdão. Rembrandt pintou-os antes do seu casamento. As pinturas estão em mãos privadas desde sempre. Primeiro na família dos protagonistas das obras e mais tarde na família Rothschild. Foi em 1877 que os dois retratos foram comprados por Gustave de Rothschild. É desde essa altura que se sabe que as pinturas estão em França, país que vão agora abandonar, uma vez que Éric de Rothschild, o actual proprietário, obteve a autorização de exportação, numa decisão envolta em polémica. Alguns especialistas esperavam que as obras fossem classificadas como tesouro nacional, o que não aconteceu.

Também criticada foi a direcção do Museu do Louvre, em Paris, por não se ter oposto à vendas pinturas, que só foram expostas ao público duas vezes no ano de 1956 – as duas na Holanda, no Rijksmuseum (Amsterdão) e no Boymans van Beuningen (Roterdão). Jean-Luc Martinez, director do museu mais visitado do mundo, alegou falta de fundos. Na sua colecção, o Louvre tem o famoso Betsabé no Banho, entre várias obras de Rembrandt.

Ainda antes de o governo holandês ter anunciado esta semana a decisão de alocar 80 milhões de euros para a compra das obras, estudou-se a possibilidade de uma compra partilhada entre o museu de Paris e o museu nacional holandês de forma a garantir que as obras ficavam disponíveis ao público. “Seria uma forma original de manter as obras na Europa”, chegou a comentar Jean-Luc Martinez. O valor de 160 milhões de euros excede, no entanto, os orçamentos dos dois museus.

Agora com os 80 milhões de euros dados pelo governo holandês é mais certo que as obras regressem ao país do seu mestre. “É essencial para nós que estes quadros, que neste momento fazem parte de uma colecção privada, se tornem propriedade pública para que possam ser vistos pelo público holandês e se mantenham na Europa”, disse nesta segunda-feira à Radio 1 o ministro da Cultura holandês, Jet Bussemaker, defendendo que seria “completamente indesejável” que as obras acabassem compradas por “uma nação rica em petróleo”.

Ao receber este montante do Estado, o Rijksmuseum, que guarda na sua colecção importantes obras de Rembrandt como a celebrada A Ronda da Noite, compromete-se a angariar os restantes 80 milhões de euros. O museu está a trabalhar activamente na procura de mecenas e patrocinadores para poder comprar os retratos à família Rothschild. Caso aconteça, a compra por 160 milhões de euros seria um recorde para um museu público na Europa e até nos Estados Unidos, escreve o New York Times.

Ao diário nova-iorquino numa entrevista por telefone, Taco Dibbits, director de colecções do Rijksmuseum, disse que o museu esta é uma oportunidade extremamente rara. “Rembrandt como estes, isto simplesmente não acontece”, defendeu, contando que “o último Rembrandt comparável que apareceu no Mercado foi Aristotle vendido em 1961 ao Metropolitan Museum of Art [em Nova Iorque]”. Na altura foi comprado por pouco mais de dois milhões de euros.

As obras pertencem à primeira época de Rembrandt como retratista. Quanto retratou Maerten Soolmans e Oopjen Coppit, o pintor tinha 26 anos e mudado há pouco tempo para Amesterdão.

Dos 80 milhões de euros dados pelo governo holandês, 30 milhões são do fundo do património cultural e 50 milhões foram retirados das finanças públicas de empresas pertencentes ao Estado como é o caso dos caminhos-de-ferro, clarificou o ministro da Cultura. Todos os partidos políticos holandeses votaram a favor desta decisão.