Protectorado

Primeiro, porque de maneira geral foram esses mesmos patriotas que levaram Portugal ao protectorado de Bruxelas. Depois, pela total ignorância da história deste pobre país desde pelo menos o fim do século XVIII. Toda a gente se esqueceu que em 1807 a Inglaterra meteu D. João VI num barco e o despachou para o Brasil? Ou que Junot acabou corrido por um corpo expedicionário inglês? Ou que o embaixador de S.M. Britânica tinha assento de jure no Conselho de Regência que ostensivamente governava o Reino?

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Primeiro, porque de maneira geral foram esses mesmos patriotas que levaram Portugal ao protectorado de Bruxelas. Depois, pela total ignorância da história deste pobre país desde pelo menos o fim do século XVIII. Toda a gente se esqueceu que em 1807 a Inglaterra meteu D. João VI num barco e o despachou para o Brasil? Ou que Junot acabou corrido por um corpo expedicionário inglês? Ou que o embaixador de S.M. Britânica tinha assento de jure no Conselho de Regência que ostensivamente governava o Reino?

E ninguém se lembra que na guerra contra os franceses (que durou até 1814) o general Beresford comandava o exército português com a ajuda de umas dezenas de oficiais que trouxera de Inglaterra e que o nosso Tesouro pagava? E também ainda não é claro para a cabecinha nacional que o triunfo do liberalismo em 1834 não passou de uma conveniência da Inglaterra que ela, de resto, financiou e forçou as potências conservadoras, como por exemplo a Áustria, a engolir? E o progressismo indígena também se esqueceu que a guerra da “Patuleia” se resolveu com a intervenção da esquadra inglesa (ao largo do Porto e em Setúbal), por uma invasão de um exército espanhol assalariado por Londres e por um “protocolo” de Palmerston, que determinava quem podia, ou não podia, entrar no governo?

E a seguir desapareceu o protectorado? De maneira nenhuma. A Inglaterra e, com a autorização dela, a França continuaram a sustentar a maravilhosa paz da Regeneração; e a promover ou liquidar ministérios de acordo com o grau da sua subserviência e a mandar nos territórios de África de que Portugal, na sua ingenuidade, se julgava dono. E finalmente, em 1892-1893, não hesitaram em suspender os víveres de que a nossa miséria humildemente se alimentava. Os patriotas que hoje se arrepiam com o protectorado dos credores deviam pensar que o único período em que não houve protectorado algum em Portugal foi durante a Ditadura de Salazar, cujos benefícios não se distinguiram na história da Europa. Mas voltar a 1928 não parece uma política muito inteligente.