Novo naufrágio ao largo da Líbia pode ter feito mais 200 mortos

O Crescente Vermelho avança que foram recuperados 82 corpos e continuam desaparecidas "cerca de 100 pessoas".

Fotogaleria

Responsáveis das equipas de resgate líbias disseram à agência Reuters que muitos dos migrantes e refugiados estariam encurralados no porão quando o barco se virou.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Responsáveis das equipas de resgate líbias disseram à agência Reuters que muitos dos migrantes e refugiados estariam encurralados no porão quando o barco se virou.

Um responsável do Crescente Vermelho, Ibrahim al-Attoushi, disse que foram recuperados 82 corpos, mas que continuam desaparecidas "cerca de 100 pessoas". Foram resgatados com vida 198 migrantes e refugiados, 147 dos quais foram levados para o centro de detenção de imigrantes sem documentos em Sabratha, a Leste de Trípoli.

Os migrantes e refugiados que foram salvos tinham chegado à Líbia a partir de vários países subsarianos, mas também do Paquistão, da Síria, de Marrocos e do Bangladesh.

Questionada pela Reuters, a guarda costeira italiana – que coordena as operações de resgate em nome da União Europeia – disse não ter informações sobre o naufrágio relatado pelas autoridades líbias. "Não recebemos nenhum pedido de ajuda", disse um elemento da guarda costeira sob a condição de anonimato.

Na quinta-feira, os navios envolvidos nas operações europeias resgataram 1430 pessoas e encontraram dois corpos numa embarcação de madeira que transportava 125 pessoas.

Um dia antes, na quarta-feira, um navio da guarda costeira sueca encontrou 51 corpos no porão de um barco que levava a bordo perto de 500 pessoas – nesse dia foram resgatadas mais de 3000 pessoas, em dez operações. Na quinta-feira foi encontrado um camião na Áustria com mais de 70 corpos já em decomposição.

Se países europeus como Itália se queixam de falta de condições para realizar operações no Mediterrâneo, a situação na Líbia é muito pior – essa tarefa é muitas vezes realizada com a ajuda de barcos insufláveis e barcos de pesca.

"Nós, no Crescente Vermelho, não temos nada para trabalhar. Fomos ajudados por pescadores. Apenas temos uma ambulância", disse Ibrahim al-Attoushi à Reuters.

A situação é ainda mais dramática na cidade de Zuwara, um dos locais preferidos pelos traficantes para enviarem os migrantes e refugiados em direcção a Itália.

Se antes o Estado líbio tinha uma política de deportação de imigrantes sem documentos, agora o máximo que consegue fazer no Norte do país é enviar essas pessoas para centros de detenção improvisados, sem quaisquer condições para os receber.

Os traficantes aproveitam o caos na Líbia – devastada e dividida por combates entre o Exército, inúmeras milícias e o autoproclamado Estado Islâmico – para fazer entrar no país milhares de pessoas que procuram fugir às guerras, às perseguições e à extrema pobreza nos seus países de origem, como a Síria e a Eritreia.

Desde Janeiro morreram mais de 2300 pessoas na travessia do Mediterrâneo, em comparação com os 3279 mortos verificados em todo o ano de 2014, segundo os números da Organização para as Migrações.