O engenhocas do rancho

O novo filme de Jean-Pierre Jeunet não é outro Amélie, mas é um falhanço interessante, mais sóbrio do que lhe é habitual.

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O Jovem Prodígio T. S. Spivet: o que está “por trás” da imagem DR

Em resultado, não houve muita gente disposta a dar o benefício da dúvida a O Jovem Prodígio T. S. Spivet, aventura do realizador do lado de lá do Atlântico (rodada quase inteiramente no Canadá a fingir de EUA), que é fita desequilibrada mas bem mais sóbria do que é habitual no cineasta francês. Sim, continuamos no reino do folclore, mas o Oeste americano que parece corresponder a uma fantasia europeia de uma pequena América mitificada pelo cinema clássico é exigido pela história, adaptada de um romance do americano Reif Larsen e mais “estruturada” que em filmes anteriores. T. S. Spivet é um miúdo-prodígio que vive num rancho do Montana, numa família disfuncional afectada pela morte do seu irmão gémeo, cuja viagem a Washington para receber um prestigiado prémio científico se torna numa espécie de “catarse”/“aceitação” da perda. 

Se a ideia de um “engenhocas” dos confins da pradaria parece feita à medida de Jeunet, é nos momentos mais íntimos (como num belíssimo episódio “mudo” com uma pequena acrobata pela janela de um comboio) e mais humanos que O Jovem Prodígio T. S. Spivet é melhor. É um filme mais interessado no que está “por trás” da imagem e no modo como as pessoas erguem “fachadas” para se proteger da dor, e que é todo ele percorrido pela sombra da morte, mesmo quando a fotografia deslumbrante de Thomas Hardmeier carrega nas cores douradas do bilhete postal – mas também é verdade que por cada momento mais conseguido Jeunet dá um tropeção desnecessário, sobretudo num “terceiro acto” que carrega demasiado na sátira e desaproveita em absoluto a demasiado rara Judy Davis. É um falhanço interessante, melhor do que a sua reputação de “filme incompreendido” sugere.

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Em resultado, não houve muita gente disposta a dar o benefício da dúvida a O Jovem Prodígio T. S. Spivet, aventura do realizador do lado de lá do Atlântico (rodada quase inteiramente no Canadá a fingir de EUA), que é fita desequilibrada mas bem mais sóbria do que é habitual no cineasta francês. Sim, continuamos no reino do folclore, mas o Oeste americano que parece corresponder a uma fantasia europeia de uma pequena América mitificada pelo cinema clássico é exigido pela história, adaptada de um romance do americano Reif Larsen e mais “estruturada” que em filmes anteriores. T. S. Spivet é um miúdo-prodígio que vive num rancho do Montana, numa família disfuncional afectada pela morte do seu irmão gémeo, cuja viagem a Washington para receber um prestigiado prémio científico se torna numa espécie de “catarse”/“aceitação” da perda. 

Se a ideia de um “engenhocas” dos confins da pradaria parece feita à medida de Jeunet, é nos momentos mais íntimos (como num belíssimo episódio “mudo” com uma pequena acrobata pela janela de um comboio) e mais humanos que O Jovem Prodígio T. S. Spivet é melhor. É um filme mais interessado no que está “por trás” da imagem e no modo como as pessoas erguem “fachadas” para se proteger da dor, e que é todo ele percorrido pela sombra da morte, mesmo quando a fotografia deslumbrante de Thomas Hardmeier carrega nas cores douradas do bilhete postal – mas também é verdade que por cada momento mais conseguido Jeunet dá um tropeção desnecessário, sobretudo num “terceiro acto” que carrega demasiado na sátira e desaproveita em absoluto a demasiado rara Judy Davis. É um falhanço interessante, melhor do que a sua reputação de “filme incompreendido” sugere.