Será que os australopitecos já conviviam com babuínos modernos?

Fóssil de babuíno encontrado na África do Sul com mais de dois milhões de anos ajuda a compreender a evolução deste primata.

Foto
Novo fóssil (à esquerda) atribuído à espécie P. angusticeps (à direita) Universidade de Wits

“Os australopitecos e os babuínos coexistiram em termos temporais. Mas é impossível dizer como, quando e se interagiram”, diz ao PÚBLICO Christopher Gilbert, da City University de Nova Iorque, coordenador do trabalho publicado nesta quarta-feira na revista PLOS ONE.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Os australopitecos e os babuínos coexistiram em termos temporais. Mas é impossível dizer como, quando e se interagiram”, diz ao PÚBLICO Christopher Gilbert, da City University de Nova Iorque, coordenador do trabalho publicado nesta quarta-feira na revista PLOS ONE.

O novo fóssil – que não é mais do que a parte direita do crânio, onde se inclui a região do olho e do maxilar superior, mas não os dentes – terá sido de um babuíno macho que viveu entre há dois e 2,3 milhões de anos. Por ter sido encontrado num local arqueológico em que se conhecem bem as datas dos sedimentos, este crânio ajuda a compreender a evolução dos babuínos, hoje espalhados por toda a África subsariana e pelo Sul da Península Arábica.

“O fóssil parece ser o mais antigo da espécie Papio angusticeps”, diz o especialista em evolução dos primatas, que argumenta que há muitas parecenças entre os fósseis da espécie extinta e o Papio hamadryas, um babuíno que hoje se encontra no Leste de África e na Península Arábica. “O novo fóssil reforça a ideia de que o Papio angusticeps é provavelmente a mesma espécie do Papio hamadryas. Porque quase todas as características anatómicas que ficaram preservadas estão dentro da variação das características dos babuínos modernos.”

Pode parecer estranho que os babuínos de hoje e de há dois milhões de anos sejam praticamente iguais, enquanto a anatomia dos nossos antepassados mudou tanto até nós surgirmos. Mas Christopher Gilbert defende que as pressões evolutivas são diferentes em cada espécie: “Temos de assumir que vários factores nas populações de hominíneos favoreceram uma evolução anatómica relativamente rápida, enquanto outros factores nas populações de babuínos favoreceram a estabilidade anatómica.”