López põe fim à greve de fome após marcação de eleições na Venezuela

Legislativas foram marcadas para 6 de Dezembro. Opositor político anunciou fim da greve de fome, iniciada há um mês, mas não da luta política.

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Crescem os apelos à libertação de Leopoldo López Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Quando anunciou a intenção de realizar a greve, López, preso há mais de um ano e acusado pelo regime de Maduro de “instigação à desobediência civil” nos protestos de 2014, dos quais resultou a morte de 43 pessoas, fez três grandes exigências: a marcação da data das eleições, supervisionadas pela comunidade internacional; a libertação dos presos políticos; e o fim da repressão.

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Quando anunciou a intenção de realizar a greve, López, preso há mais de um ano e acusado pelo regime de Maduro de “instigação à desobediência civil” nos protestos de 2014, dos quais resultou a morte de 43 pessoas, fez três grandes exigências: a marcação da data das eleições, supervisionadas pela comunidade internacional; a libertação dos presos políticos; e o fim da repressão.

A crise política e social que se vive no país, desde os protestos de Fevereiro de 2014, levantou suspeitas, entre a oposição a Nicólas Maduro, de que as eleições poderiam ser adiadas.

“Meu amado Leopoldo, conseguimos!”, publicava Lilian Tintori, mulher de López,  no Twitter, pouco tempo após o anúncio da marcação das eleições para o dia 6 de Dezembro. Junto da publicação, revelava ainda uma emocionante carta que escreveu ao marido, pedindo-lhe que “levante a greve”, em nome dos seus filhos e de toda a Venezuela que “depositou esperança” na sua iniciativa.

Outras personalidades da Venezuela vieram pedir publicamente, durante o dia de ontem, para que López terminasse a greve de fome. O cardeal Jorge Savino revelou este desejo através de uma carta difundida pelo Arcebispado de Caracas, pedindo a Leopoldo para “preservar a sua vida e continuar a luta pela liberdade”. Ismael García, um deputado da Assembleia Nacional, publicou no Twitter uma mensagem apelando a López que se “levantasse”, para “iniciar a mudança”. Leopoldo López Gil, pai do dirigente da VP, rotulando o Governo de Maduro de “regime tirânico”, pede ao filho que “regresse à normalidade biológica”, também numa carta tornada pública.

Leopoldo López acabou por aceder aos inúmeros pedidos. Na sua conta oficial do Twitter, possivelmente pela mão da esposa, surgiu uma carta escrita pelo líder do VP, agradecendo o apoio do povo da Venezuela e anunciando a tão esperada notícia: o preso renunciava à greve de fome, iniciada há 30 dias.

Na carta partilhada, intitulada “A mudança já tem data”, López pede àqueles que com ele iniciaram a greve que aceitem “com humildade os resultados obtidos com o protesto” e lembra que o povo venezuelano necessita que estes estejam “sãos e cheios de vida”, para lutarem pela “paz e pela libertação” da Venezuela. Leopoldo descreveu, ainda, os últimos 30 dias como “lentos e pesados”, mas realça que valeu a pena, já que a marcação da data das eleições pode ser o primeiro passo para “conquistar a democracia”. Refere também que termina a greve, “mas não a luta” ao Governo de Maduro.

Há dois dias, a esposa de López, tinha publicado uma fotografia do seu marido no Instagram, assinalando os 28 dias de greve de fome, acompanhada por uma mensagem que informava que o político se encontrava muito “débil” e já não conseguia “pôr-se de pé”.

Oficializada a primeira pretensão de Leopoldo López, ainda que tenha sido apenas chamada a União das Nações Sul-Americanas (UNASUR) para a supervisão, ao contrário das organizações pretendidas pelo opositor político, a União Europeia (UE) e Organização dos Estados Americanos (OEA), a oposição venezuelana congratulou-se com a decisão do CNE e realçou a iniciativa de López. Daniel Ceballos, outro preso político, também tinha aderido à greve de fome, mas acabou por desistir da mesma, há cerca de uma semana.

“É um momento de alegria, de triunfo”, anunciou Freddy Guevara, coordenador político adjunto do VP, citado pelo jornal argentino La Nación. “O CNE não queria marcar a data, porque não queria esta eleição”, acrescentou. Para este representante de um dos partidos políticos que compõem a Mesa da Unidade Democrática (MUD), o movimento opositor a Maduro, ficou ainda claro que “a mudança consegue-se através da pressão” e agradeceu a López e aos cerca de 100 seguidores que, com ele, iniciaram a greve de fome.

Tibisay Lucena, presidente do CNE, não partilha da mesma opinião que Guevara. No anúncio da data para a realização das eleições, Lucena garantiu, citada pelo jornal espanhol El País, que o “CNE não actua sob pressão” e que a instituição “nunca deu sinais” de que o processo eleitoral “não se iria realizar este ano”, ao contrário das acusações da oposição. A presidente criticou as “campanhas de desprestígio” contra o CNE, vindas de “dentro e de fora da Venezuela” e ainda as constantes “mentiras” e “desinformação”, publicadas nas redes sociais.

O CNE anunciou que a campanha eleitoral para os lugares do parlamento do país ocorrerão entre 13 de Novembro e 3 de Dezembro. Três dias depois, a 6 de Dezembro, os venezuelanos irão votar nos candidatos à Assembleia Nacional, data que coincide com a primeira eleição do eterno Presidente, Hugo Chávez, nomeado Chefe de Estado nesse mesmo dia, no ano de 1998.

Mudança à vista?

Como afirmava Ismael García, o dia 6 de Dezembro pode ser “o dia da mudança”. A televisão pública britânica BBC refere que, apesar de o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) deter, actualmente, a maioria dos lugares da Assembleia Nacional, as “recentes sondagens sugerem que, se a eleição fosse realizada hoje, a coligação opositora [MUD] venceria”.

Mas o Presidente Nicólas Maduro parece estar preparado para as novas eleições, apelando à união dos venezuelanos em torno do PSUV, no poder há 16 anos. Pouco tempo depois da oficialização da data eleitoral, o líder socialista publicou na sua conta oficial do Twitter a seguinte mensagem: “Já temos data para a batalha, para uma nova vitória do povo”.

O Governo de Maduro tem sido constantemente acusado de violações de direitos humanos, não só por parte da MUD. Os rostos internacionais da oposição ao regime “chavista”, nos últimos tempos, têm sido o ex-candidato presidencial brasileiro, Aécio Neves, assim como o antigo Presidente do Governo de Espanha, Felipe González.

Texto editado por Joana Amado