Líder da oposição da Venezuela anuncia greve de fome desde a prisão

Leopoldo López, detido pelo regime “chavista” há mais de um ano, gravou um vídeo onde pede a libertação dos presos políticos.

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Leopoldo López no dia em que foi preso, em Fevereiro do ano passado Jorge Silva/reuters

Na sequência dos protestos contra o Governo do Presidente venezuelano Nicolas Maduro, em Fevereiro de 2014, e dos quais resultaram 43 mortos, Leopoldo López foi preso, por “instigação à desobediência civil”. Um ano e três meses depois, o activista político anuncia uma greve de fome, apelando à “libertação dos presos políticos”, ao “fim da repressão” e à convocação de “novas eleições legislativas”, supervisionadas pela União Europeia (UE) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

"Há mais filas, mais inflação, mais escassez, mais insegurança e mais corrupção”, alerta López, num vídeo de cerca de quatro minutos, gravado na prisão de Ramo Verde, com a ajuda da sua mulher e publicado este sábado no Twitter. O opositor considera que a situação na Venezuela é pior do que era há um ano e poucos meses, altura em que foi detido, juntamente com Daniel Ceballos, antigo autarca de San Cristóbal.

López, de 44 anos, descreve o Governo da Venezuela como “incompetente”, “ineficiente”, “corrupto” e “antidemocrático”, responsabilizando-o pela morte daqueles que morreram nos protestos de 2014. O activista político é um dos rostos da oposição ao regime “chavista”, liderado por Maduro, tanto internamente como a nível internacional.

Afirmando que o regime mantém refém o “presente e futuro dos venezuelanos” e  que viola os seus direitos e os das suas famílias, López anunciou que ele e Ceballos “tomaram a decisão de iniciar uma greve de fome para que se libertem os presos políticos, para que acabe a perseguição, a repressão e a censura” e para que se proclame uma data para a realização de “eleições parlamentares supervisionadas pela OEA e UE”.

Para além destas pretensões, López também apelou à realização de uma marcha pacífica contra o Governo de Maduro, a realizar no próximo sábado, dia 30 de Maio.

O anúncio da greve de fome surgiu pouco depois de Ceballos ter sido transferido para uma outra prisão, sob o pretexto de que ambos os presos políticos “tinham previsto iniciar um plano conspirativo”, segundo relata o jornal pró-governamental Ultimas Noticias.

Segundo o jornal argentino La Nación, Tarek Saab, um venezuelano de ascendência libanesa que ocupa o cargo de provedor no país, informou a comunicação social que se tinha reunido com López, após a publicação do vídeo, e que este já tinha sido “disciplinado” por violar as regras do estabelecimento prisional, devido à posse do telemóvel com o qual terá gravado o vídeo.

A detenção de presos políticos na Venezuela tem sido severamente criticada pela Human Rights Watch, que coloca as prisões do país no topo da lista dos estabelecimentos mais perigosos da América Latina, segundo o jornal espanhol El País.

A organização de defesa dos direitos humanos já veio protestar contra a transferência de Ceballos para outra prisão, dizendo que esta terá ocorrido sem a declaração de uma ordem judicial, e exigiu a “imediata libertação e protecção dos dirigentes políticos detidos arbitrariamente” na Venezuela.

Leopoldo López conta com um apoio importante na comunidade internacional. Felipe González, antigo chefe do Governo de Espanha, entre 1982 e 1996, respondeu positivamente a uma petição das famílias dos presos políticos venezuelanos e aceitou “dar a cara” pela defesa dos seus direitos.

González entende que os acusados políticos na Venezuela não têm quaisquer “garantias jurídicas mínimas”, situação que contribui para a crescente “deterioração da situação dos direitos humanos” naquele país e pretende também “romper com o silêncio” dos governos da América Latina sobre esta realidade.

Deputados ligados ao regime de Maduro já vieram qualificar a posição de González como uma “ingerência” nos assuntos internos da Venezuela, segundo o El País.


Texto editado por Joana Amado

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