EDP estreia em Lisboa filme inédito de Manoel de Oliveira

Curta-metragem retoma Hulha Branca, de 1932, e é apresentada como a única campanha publicitária da carreira do realizador.

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Hulha Branca é uma curta-metragem realizada em 1932 DR

A EDP guardou ciosamente para a sessão da tarde de segunda-feira – às 18h, na sua nova sede em Lisboa, na Rua de D. Luís I – a revelação do que será esta curta-metragem, que deverá ter perto de dez minutos, e que é apresentada pela empresa como “uma obra inédita”, “o último trabalho realizado pelo mestre Manoel de Oliveira”, e que deu origem à “única campanha de publicidade” na carreira do realizador.

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A EDP guardou ciosamente para a sessão da tarde de segunda-feira – às 18h, na sua nova sede em Lisboa, na Rua de D. Luís I – a revelação do que será esta curta-metragem, que deverá ter perto de dez minutos, e que é apresentada pela empresa como “uma obra inédita”, “o último trabalho realizado pelo mestre Manoel de Oliveira”, e que deu origem à “única campanha de publicidade” na carreira do realizador.

O PÚBLICO confirmou que este foi, efectivamente, o último trabalho em que Oliveira, ainda que já diminuído pela idade e pelo seu estado de saúde, esteve junto à câmara de filmar que alimentou toda a sua vida: participou em Março, a um escasso mês da sua morte, em alguns momentos da rodagem de novas imagens para o documentário da EDP – e que a empresa registou também num making of, que acompanhará a estreia do novo filme.

Na base de 1 Século de Energia está uma das primeiras curtas-metragens de Manoel de Oliveira, Hulha Branca, realizada em 1932 sobre a inauguração da Central Hidro-eléctrica do Ermal, no Rio Ave, uma empresa fundada pelo seu pai, Francisco José Oliveira, que foi um pioneiro na exploração das potencialidades da energia eléctrica no país.

“O meu pai foi o primeiro fabricante de lâmpadas eléctricas em Portugal, mas, como estava avançado em relação ao seu tempo, a procura não era suficiente” e a empresa não teve o sucesso esperado, explicou o realizador em entrevista aos franceses Jacques Parsi e Antoine de Baecque (que deu o livro Conversas com Manoel de Oliveira; edição Campo das Letras, 1999).

Hulha Branca foi feita logo a seguir à sua muito celebrada primeira-obra, Douro, Faina Fluvial (1931), e no mesmo ano em que o jovem realizador faria um segundo documentário, Estátuas de Lisboa, que entretanto se perdeu. Trabalhos que Oliveira assinou com os seus nomes do meio, Cândido Pinto – porque os considerou como “obra menor do ponto de vista cinematográfico”, justificou.

Homenagear o seu pai, e também a sua numerosa família, a partir de documentos pessoais mas também de imagens registadas pelo documentarista francês seu amigo Jean Rouch (1917-2004), era um dos inúmeros projectos que se mantiveram na mesa-de-cabeceira de Manoel de Oliveira até ao fim – como o documentário sobre a arquitectura de Álvaro Siza, por exemplo. E é bem provável que o realizador tenha visto no desafio que lhe foi lançado pela EDP um meio de reunir as condições que lhe permitissem continuar a filmar – a sua forma de respirar...

De qualquer modo, a partir desta segunda-feira, 1 Século de Energia irá associar-se à lista de títulos da filmografia de Manoel de Oliveira, logo a seguir a O Velho do Restelo (2014), reconhecidamente a sua última realização, rodada no Porto, perto da sua casa, na Primavera do ano passado, a concretizar um projecto que o autor de Aniki-Bóbó acalentava também desde há alguns anos, e que teria a sua estreia mundial no Festival de Veneza de 2014.