Richard Baldwin: Dívida elevada trava estímulo à economia portuguesa

Director do Centre for Economic Policy Research, em Londres, alerta que se as taxas de juro subirem 2 ou 3% Portugal poderá entrar em nova recessão

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Dívida pública das administrações públicas atingiu os 130,3% no final do primeiro trimestre deste ano Enric Vives Rubio

Em entrevista à Lusa à margem do II Fórum do Banco Central Europeu (BCE), que decorreu na semana passada em Sintra, o director do Centre for Economic Policy Research (CEPR), em Londres começou por afirmar que, neste momento, vive-se uma "boa janela de oportunidade" na Europa em que "as taxas de juro estão abaixo das taxas de crescimento, ainda que estejam ambas muito baixas". No entanto, alertou que "se as taxas de juro subirem 2 ou 3%, é um problema", no caso de Portugal, isso poderia "levar o país outra vez para uma recessão extremamente dispendiosa".

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Em entrevista à Lusa à margem do II Fórum do Banco Central Europeu (BCE), que decorreu na semana passada em Sintra, o director do Centre for Economic Policy Research (CEPR), em Londres começou por afirmar que, neste momento, vive-se uma "boa janela de oportunidade" na Europa em que "as taxas de juro estão abaixo das taxas de crescimento, ainda que estejam ambas muito baixas". No entanto, alertou que "se as taxas de juro subirem 2 ou 3%, é um problema", no caso de Portugal, isso poderia "levar o país outra vez para uma recessão extremamente dispendiosa".

Para Richard Baldwin (que escreveu vários artigos em co-autoria com Paul Krugman, prémio Nobel da Economia de 2008), "com esses níveis de dívida é pouco inteligente [Portugal] pensar em algum tipo de expansão orçamental". A dívida pública das administrações públicas atingiu os 130,3% no final do primeiro trimestre deste ano, depois de ter fechado 2014 nos 130,2% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Banco de Portugal. "Vocês ficaram sem espaço na política orçamental, não é que não tenham tentado. Vocês usaram a política orçamental e provavelmente a recessão teria sido ainda pior se não a tivessem usado", disse.

Richard Baldwin entende, no entanto, que "há outras vias", nomeadamente "emitir dívida para financiar projectos de infra-estruturas através de Parcerias Público-Privadas" e também a "capacidade de o Governo taxar ou não taxar as coisas ou de colocar uma garantia atrás das coisas". Destacando que Portugal já não tem política monetária e que "deixou de ter margem na política orçamental", "a única coisa que sobra é as [reformas] estruturais".

No entanto, Baldwin alertou que "não há políticas mágicas" e lamentou que na Europa se diga aos jovens de 20 anos que não têm trabalho para "esperarem mais 10 anos", defendendo que "o que tem de ser feito a nível europeu é algum tipo de expansão". "Não é Portugal. A solução seria pôr a Europa a mexer e pôr o BCE a ser ainda mais expansionista, se é que isso é possível, e conseguir que os países que têm margem orçamental a usem", reiterou.

Richard Baldwin é professor no Graduate Institute, em Geneva, e é director do Centre for Economic Policy Research (CEPR), em Londres. Foi ainda conselheiro económico da administração norte-americana de Bush em 1990 e 1991.