À superfície

Gregg Araki entre a sátira social e o drama adolescente.

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Pássaro Branco: entre a sátira social e o drama adolescente DR

Mas, ao contrário de contemporâneos seus como Gus van Sant ou Todd Haynes, nunca fez verdadeiramente a “transição” para fora desse gueto, onde se volta a encerrar com “requintes de malvadez” neste peculiar Pássaro Branco. Adaptando um romance da escritora Laura Kasischke sobre o impacto do desaparecimento da mãe (Eva Green) na vida de uma jovem americana como qualquer outra (Shailene Woodley, a heroína da série Divergente), Araki balança entre a sátira social a traço grosso e o drama da crise adolescente num filme que parece, ele próprio, conformar-se à definição que uma das personagens faz de outra: “Raspa-se a superfície e por baixo só há mais superfície.”

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Mas, ao contrário de contemporâneos seus como Gus van Sant ou Todd Haynes, nunca fez verdadeiramente a “transição” para fora desse gueto, onde se volta a encerrar com “requintes de malvadez” neste peculiar Pássaro Branco. Adaptando um romance da escritora Laura Kasischke sobre o impacto do desaparecimento da mãe (Eva Green) na vida de uma jovem americana como qualquer outra (Shailene Woodley, a heroína da série Divergente), Araki balança entre a sátira social a traço grosso e o drama da crise adolescente num filme que parece, ele próprio, conformar-se à definição que uma das personagens faz de outra: “Raspa-se a superfície e por baixo só há mais superfície.”

A sátira do sonho americano pouco adianta ao que Haynes fizera, em melhor, no seu Longe do Paraíso, tombando não raras vezes numa paródia cansada e pouco original de sitcom (a milhas, por exemplo, da frescura com que Benjamin Crotty o fez em Fort Buchanan). E nem a carismática Eva Green (aqui a afogar a sua sensalidade numa mistura de Fanny Ardant com a Morticia Addams de Anjelica Huston) consegue ancorar o surrealismo trashy da abordagem de Araki. É verdade que, mesmo que Pássaro Branco seja um fracasso, é um fracasso interessante, que procura sair do vulgar de Lineu do filme adolescente e que transporta todas as marcas autorais do cinema de Araki, integrando-se sem problemas numa obra cujo melhor título ainda é Mysterious Skin (2004). O problema é que, depois, são essas mesmas marcas autorais que condenam o filme a uma “terra de ninguém”.