Descubra as diferenças
Ao falar dos conflitos de independência africanos dos anos 1970, Göran Hugo Olsson fala do que não mudou no mundo nos últimos 40 anos.
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O que torna Concerning Violence bem mais do que um simples trabalho de redescoberta de arquivos é o dispositivo formal que recorre a uma das mais clássicas de todas as técnicas cinematográficas – a “teoria da montagem”, ou seja o modo como a sequenciação dos planos na montagem altera o significado. Olsson sobrepõe às imagens de época excertos da obra do pensador da Martinica Frantz Fanon Os Condenados da Terra - escritas em 1961, antes da maioria dos acontecimentos mostrados, mas sobrepostas às imagens em 2013, num momento em que conhecemos já o resultado da independência destes países – e lidas pela cantora Lauryn Hill.
A sobreposição recontextualiza estes conflitos anti-coloniais no seu momento histórico, social e político, mas propõe também um desafio ao espectador, como um “jogo das sete diferenças” entre passado e presente. As circunstâncias que atearam esses conflitos em cada país eram sintomas específicos, locais, de um mal-estar generalizado e abrangente, exemplificado em situações de inexplicável e aleatória injustiça geradas por uma cultura colonial condescendente e desinteressada na própria identidade dos países colonizados. Mas o dedo que as palavras de Fanon apontavam a uma civilização ocidental que acusava de moralmente falida e sem rumo, e ao seu capitalismo selvagem anti-humanista, mantém-se assustadoramente actual, num momento em que as questões raciais reemergem de modo preocupante por todo o mundo ocidental e muitos europeus continuam atolados numa crise financeira sem terra à vista. Entramos em A Respeito da Violência a pensar numa lição de história; saímos a pensar no futuro.