A jukebox de Mia Hansen-Løve

A realizadora francesa fez uma lista das músicas que inspiraram Éden para o Spotify do Ípsilon.

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Mia Hansen-Løve Nuno Ferreira Santos

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Éden conta a história de Paul, um jovem melómano que descobre a vibrante cena nocturna da capital francesa. Com um amigo forma a dupla de DJ’s conhecida como Cheers. Fazem mexer os clubes com uma sonoridade nova que conquista seguidores a um ritmo exponencial.

“A história do meu irmão, o seu percurso como DJ após a eclosão das raves, a descoberta da música electrónica, até à explosão mundial do French House e uma certa desilusão que o levou a mudar de vida, pareceram-me resumir de maneira bastante pertinente a energia e as aspirações da minha geração”, destaca a realizadora francesa sobre a história do filme que se estreou no IndieLisboa e nesta quinta-feira chega às salas.

Mia Hansen-Løve dá-nos a ouvir essa mesma música, justificando alguma das suas escolhas. A jukebox de Hansen-Løve começa com Sueño Latino, uma das primeiras músicas que conheceu graças ao seu irmão que a gravou numa cassete. “Ouvia-a no caminho para a escola na altura antes de surgir a música garage. Sempre associei esta música aos inícios: ao início quando descobri a música house, ao início da carreira do meu irmão como DJ, ao início da vida e às manhãs quando a ouvia no caminho da escola. Não é por acaso que se encontra no início do meu filme.”

E porque nem tudo está no Spotify, recorremos ao YouTube para podermos ouvir Private Number (feat. Nicole Graham) dos Catalan FC & Sven Löve. “É a única música de garage que já tinha usado noutro filme. É uma música composta pelo meu irmão que usei no meu primeiro filme Tout est pardonné”, conta Mia Hansen-Løve. “É uma música do Sven de que gosto imenso. Existe uma cena de discoteca no meu primeiro filme quando a rapariga se torna adolescente. Foi filmada na discoteca onde o meu irmão era DJ residente e misturava: o June. Em Éden – e é a única vez que filmei duas vezes no mesmo cenário – temos novamente uma cena no June. Ninguém reparou porque passaram muitos anos e não filmámos da mesma forma.”

Também de fora do Spotify está To Be in Love (Maw'99 Mix) de Masters At Work & India e Brotha (DJ Spen & Karizma Remix) de Angie Stone. Esta última, uma música que a realizadora redescobriu quando procurava a banda sonora do filme. “Fiquei muito comovida pela letra. Trata-se de uma declaração de amor de uma irmã ao seu irmão – poucas pessoas terão reparado. Usei-a quando a personagem de Paul não está bem, quando está mesmo frágil”, diz. “Fico sempre comovida quando oiço esta música no filme porque é sobre sentimentos que eu própria sinto quando vejo a cena.”

Os Daft Punk aparecem duas vezes na lista da realizadora mas só a escolha do Veridis Quo é justificado: “Considero esta música, juntamente com The Whistle Song de Frankie Knuckles, como a música do filme. Tem algo de muito cativante, de muito potente e ao mesmo tempo tem uma bela melodia que me toca muito”.

Mia Hansen-Løve justifica ainda a escolha de outros dois temas: Photomaton (música produzida por Félix de Givry, o actor principal do filme) e 99 (que não pôde usar na banda sosnora do filme uma vez que Cassius, como muito artistas do French Touch, usava muitos samples, sem ter todos os direitos associados na altura).