Itália pede solidariedade europeia para responder a vaga de imigração

Novos dramas no Mediterrâneo: naufrágio de pneumático provoca morte de 41 pessoas, 12 homens lançados borda fora por rixa religiosa.

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Imigrantes à chegada a Palermo, na quarta-feira Guglielmo Mangiapane/Reuters

Para além de um reforço do financiamento das operações de socorro, o Governo de Roma pede – dias depois de mais uma tragédia no mar: 350 a 400 pessoas desaparecidas, que terão morrido num naufrágio – uma “resposta clara” sobre os lugares para onde, uma vez socorridos, os imigrantes devem ser encaminhados.

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Para além de um reforço do financiamento das operações de socorro, o Governo de Roma pede – dias depois de mais uma tragédia no mar: 350 a 400 pessoas desaparecidas, que terão morrido num naufrágio – uma “resposta clara” sobre os lugares para onde, uma vez socorridos, os imigrantes devem ser encaminhados.

“O problema é europeu mas o remédio é italiano, não pode ser. Noventa por cento do custo do patrulhamento e das operações de resgate recaem sobre os nossos ombros e não tivemos uma resposta adequada da União Europeia”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paolo Gentiloni, numa entrevista ao jornal Corriere della Sera.

Gentiloni disse que a UE gasta três milhões de euros mensais na operação de patrulhamento Tritão, enquanto a operação que veio substituir – a italiana Mare Nostrum, interrompida no final do ano passado e que terá salvo 17 mil vidas – custava cerca de nove milhões.

“E há um problema mais delicado: o socorro no mar implica saber para onde as pessoas socorridas devem ser enviadas. Para o porto mais próximo? Para o país de origem do navio que os salvou? A UE deve responder com clareza.”

O ministro alertou para os efeitos de um avanço do Estado Islâmico na Líbia e para as vagas de imigração e pediu à UE para “trabalhar nas regiões de origem” do fluxo, citando concretamente “a Síria, o Corno de África, a zona Mali-Níger-República Centro Africana”.  

Numa primeira reacção, uma porta-voz da UE citada pela BBC disse que não há “soluções mágicas” para o problema.

As notícias da chegada a Itália de mais de um milhar de novos imigrantes trouxeram consigo, esta quinta-feira, relatos de novos dramas. Um barco pneumático proveniente da Líbia que perdeu pressão em plena viagem afundou-se rapidamente, provocando a morte de 41 das 45 pessoas que seguiam a bordo, segundo o testemunho de quatro sobreviventes levados para o porto de Trapani, na Sicília, depois de terem sido vistos por um avião e salvos por um navio miliar italiano.

Noutro navio proveniente da Líbia, 12 refugiados cristãos nigerianos e ganeses foram lançados borda-fora por 15 muçulmanos de nacionalidade costa-marfinense, maliana e senegalesa, alegadamente na sequência de uma rixa por motivos religiosos. Tendo em conta as declarações de testemunhas, foram detidos à chegada a Palermo e acusados de “homicídio múltiplo, agravado pelo ódio religioso”.

Desde Janeiro de 2015 terão morrido mais de 900 pessoas no Mediterrâneo. O estado calmo do mar deu origem a um aumento das viagens em direcção à Europa, o que pode levar a que sejam ultrapassados os números do ano anterior, quando 170 mil pessoas arriscaram a travessia até Itália para fugirem à pobreza e aos conflitos em África e no Médio Oriente.